2. Em termos muito sucintos, afirmámos no nosso penúltimo texto que a eleição de Tsipras não terá qualquer efeito para a distribuição de poder e influência, em termos de “mercado eleitoral”, entre os partidos políticos. E a existir qualquer efeito, esse efeito – ao invés do que tem sido ventilado pelas cabeças bem pensantes da esquerda – beneficiará somente Passos Coelho. Porquê? Vejamos.
3. Em primeiro lugar, porque o Syriza não tem correspondente no quadro partidário português. Dizer-se que o Bloco de Esquerda é o Syriza português é um erro grosseiro: o Bloco de Esquerda é um conglomerado de forças de extrema-esquerda que se uniram sob o mesmo guarda-chuva político, que tem uma história pré-eleições e que hoje tem uma crise de liderança; o Syriza começou por ser uma força residual de extrema-esquerda, mas cuja força eleitoral resulta de se arvorar numa “confederação de descontentamentos” face à austeridade imposta à Grécia. O Syriza capitalizou a revolta dos gregos: a diferença entre esquerda e a direita foi diluída na Grécia, dado o grau de miséria social e o desespero para começar a mudança de imediato! Por outro lado, a força do Syriza é a força de Tsipras: não é uma força ideológica, é uma força carismática do seu líder. O Bloco de Esquerda, como se sabe, não tem liderança, fala a várias vozes (sem que nenhuma seja ouvida pelos portugueses) – e, ao contrário do Syriza (cujas intenções de voto e popularidade foi crescendo), o Bloco de Esquerda encontra-se em queda vertiginosa, em termos de popularidade e intenções de voto. E o parceiro de coligação escolhido pelo Syriza foi a direita nacionalista. Ora, qual seria o parceiro de coligação do Bloco de Esquerda? Será que o PNR também vai agora dizer que beneficiará da experiência grega e, muito provavelmente, francesa?
4. Em segundo lugar, o Partido Comunista não se poderá colar a Tsipras, na medida em que o Bloco de Esquerda se assumiu como seu parceiro natural – e Francisco Louçã foi consultor do Syriza. O PC não pode, pois, dar a aparência de “andar a reboque” dos bloquistas. Para além disso, o Partido Comunista é um partido eminentemente nacional, sem paralelo exterior. E António Costa? Bem, António Costa tem de fazer um equilíbrio interessante e difícil.
5. António Costa, por um lado, não poderá subscrever as teses do Syriza e do Tsipras. Porquê? Por um lado, porque seria juntar-se à extrema-esquerda e aliar-se de facto ao Bloco de Esquerda. Colocaria o PS numa situação muito delicada, podendo perder franjas importantes do eleitorado, em benefício do Bloco de Esquerda. Além disso, o parceiro natural do PS, na Grécia, é o PASOK – o qual desapareceu, nestas eleições, do mapa político grego! Portanto, o PS foi um claro derrotado nas eleições gregas.
6. Adicionalmente, refira-se que António Costa sabe que a experiência de Tsipras pode correr muito mal – esta coligação insólita tem tudo para acabar brevemente e com estrondo. Com o povo grego a ficar ainda pior do que está –e, naturalmente, quem beneficiará com tal cenário serão os opositores das políticas do Syriza, incluindo Passos Coelho. Logo, concluímos que António Costa está entre a espada e a parede. O melhor é mesmo fazer aquilo que Costa faz com mais virtuosismo: ficar calado.
7. Por último, refira-se que a vitória do Syriza – sendo um sinal de desespero do povo grego – permite a Passos Coelho estabelecer a comparação entre a Grécia e Portugal. O discurso do governo e dos líderes europeus foi sempre o de separar a Grécia dos restantes países, designadamente Portugal. Vários economistas – qual profetas da desgraça – afirmaram ser inevitável que Portugal caísse tão fundo quanto a Grécia. Enganaram-se. Depois de o PS ter levado Portugal a uma situação insustentável, à beira da bancarrota, e de nunca os dirigentes do PS revelaram sinais de humildade e pedirem desculpas pelo desastre que foi José Sócrates – Passos Coelho e seu Governo, com todos os seus defeitos, conseguiu que Portugal evitasse o colapso financeiro e social. Que diabo: algum crédito deve ser dado a Passos Coelho! Não acha, António Costa?