"No sector dos medicamentos começa a haver escassez, porque as empresas instaladas em Angola não conseguem fazer importações porque não conseguem pagar aos fornecedores no estrangeiro", diz o responsável, garantindo que, no caso da farmacêutica portuguesa, "isto até é visto como uma oportunidade para manter o ritmo normal de trabalho" e escapar a uma crise que está a estender-se a toda a economia.
"A importação de medicamentos está relativamente bloqueada porque as empresas internacionais pura e simplesmente não enviam produtos para Angola sem a certeza de receberem o dinheiro", acrescenta, lembrando que no caso da sua própria empresa, as verbas para pagamento dos medicamentos portugueses exportados para Angola estão bloqueadas na conta da angolana Farmalog "desde Novembro" à espera de autorização do Banco Nacional de Angola (BNA)para serem disponibilizados dólares.
O alerta sobre a escassez de medicamentos surge na mesma altura em que a ministra do Comércio de Angola anuncia que o BNA está a reforçar a disponibilização de divisas aos bancos comerciais para desbloquear o pagamento de produtos importados, nomeadamente alimentos e medicamentos.
De acordo com Rosa Pacavira, verificam-se "constrangimentos relativos aos pagamentos" de mercadoria importada, com remessas em atraso desde novembro, devido à escassez de divisas.
"O BNA está neste momento a disponibilizar remessas para os bancos, de forma gradual, para que então se possa fazer o pagamento daqueles importadores de produtos alimentares e medicamentos, essencialmente. Para que tenhamos então os produtos a entrarem para o país", afirmou a governante, em Luanda.
Apesar do clima adverso, a intenção deste gestor português, que abriu a NBC Medical há seis anos, e a angolana Farmalog há dois, é continuar no país: "Apesar da crise continuamos de pedra e cal no mercado, não mandamos pessoas embora, temos é mais cautelas na vertente de custos e investimentos", explica à Lusa.
Sobre os próximos tempos, Belmar da Costa antecipa dificuldades porque "como não há dólares na economia, qualquer empresa com expatriados está a ter sérias dificuldades em fazer transferência de dólares através do banco, e mesmo que queiram levantar, não há, e não há mesmo".
O problema agrava-se por causa da saúde financeira da generalidade das empresas portuguesas presentes em Angola, "que enfrentaram cinco anos de austeridade, ficando descapitalizadas e sem capacidade de gerar cash-flow', mas a solução, defende, pode estar no Banco Central Europeu.
"Estou convencido que este programa do BCE de desbloquear verbas pode ajudar, desde que haja vontade da banca em incentivar as PME a recorrer ao crédito, por isso se o dinheiro for bem gerido e chegar realmente à economia real, isto pode beneficiar as empresas exportadoras que passam a ter acesso ao crédito, e assim haver mecanismos de financiamento que podem aliviar, de certa forma, esta crise anunciada em Angola", conclui Belmar da Costa.
A NBC Medical é uma empresa portuguesa criada há seis anos, tendo faturado 28 milhões de euros em Portugal no ano passado. Emprega 43 pessoas em Portugal e exporta a totalidade da sua produção de medicamentos e produtos clínicos, sendo Angola o destino de cerca de 50% das exportações.
Há dois anos, criou a Farmalog, que teve uma facturação de 15 milhões de dólares em 2014 e emprega cerca de 80 pessoas, detendo ainda seis farmácias, uma empresa de reagentes e diagnósticos e outra de logística grossista farmacêutica nas províncias, com um armazém em Benguela e outro em Cabinda.
Lusa/SOL