‘Tudo invenções e mentiras’

Em entrevista que a SIC emitiu esta terça-feira, José Sócrates acusa o Ministério Publico de ser o principal responsável por violações do segredo de justiça no processo em que é arguido:  “É evidente que a investigação joga com isso e com as fugas selectivas ao segredo de justiça para obter a condenação antes mesmo da sentença”.

‘Tudo invenções e mentiras’

"Era o que faltava que eu tivesse de assistir calado à divulgação criminosa de informações em segredo de justiça", acrescenta.

Preso preventivamente desde 24 de Novembro, o ex-primeiro-ministro garante que nunca teve um milhão de euros nem propriedades escondidas num fundo imobiliário.

Na segunda entrevista por escrito a uma televisão, José Sócrates começa por explicar as duas alterações que fez aos voos de regresso a Lisboa. Primeiro para sexta-feira porque na véspera participou num seminário académico. E no dia seguinte fez nova alteração porque o advogado se deslocou a Paris para com ele se reunir.

“A verdade é que eu voltei, não fugi”, sublinha, acrescentando que “se este processo fosse normal, guiado pelo bom senso, qualquer suspeita sobre a alegada intenção de fugir teria morrido aí”.

Antes de chegar a Lisboa, lembra ainda, o seu advogado João Araújo enviou um email ao director do Departamento Central de Investigação e Acção Penal, que lidera o inquérito, para comunicar a vontade do antigo primeiro-ministro de ser ouvido “o mais rapidamente possível”. E, segundo Sócrates, o director do DCIAP terá transmitido essa mensagem ao procurador Rosário Teixeira.

Sobre a detenção, já em Lisboa, diz que “nada teve a ver com justiça, mas com espectáculo” e reitera que não existem provas que o incriminem: “É cada vez mais claro que neste caso se prendeu para investigar. O que aconteceu foi uma total precipitação de quem estava tão cego pela sua intenção persecutória que avançou sem provas ou sequer de fortes indícios de quaisquer crimes”. E classifica a sua prisão preventiva como “abusiva, desproporcionada e ilegal”.

Sobre os crimes de que é suspeito, Sócrates garante que nunca tomou “qualquer  iniciativa para favorecer as empresas do grupo Lena ou do amigo Carlos Santos  Silva” e que nem este último nem os administradores do grupo Lena lhe pediram “seja o que for” enquanto foi governante.

Quanto ao telefonema para o vice presidente de Angola, confirma que num almoço com Santos Silva e um dos administradores do grupo Lena, foi-lhe pedido se podia “diligenciar” para que os empresários fossem recebidos. “Acedi ao pedido por mera simpatia, sem nenhum interesse que não fosse ajudar uma empresa portuguesa, como aliás fiz com outras”.

“Mentiras”, diz ainda José Sócrates, são as acusações sobre as malas de dinheiro para Paris, um milhão descoberto num cofre e um fundo para esconder imóveis que diz nunca ter tido. “Tudo invenções”.

“Talvez convenha lembrar o nosso estimável Ministério Público que o que perturba de facto o inquérito são as constantes violações do segredo de justiça”, critica o ex-governante.

Questionado sobre o estilo de vida dispendioso que manteve  em Paris, é peremptório: “Não admito nem alimento esses julgamentos, nem sequer para comentar a mesquinhez dos que acham que é um luxo tirar um mestrado ou ter os filhos a estudar numa escola estrangeira”. E reitera que não é crime pedir empréstimos a um amigo, os quais tenciona pagar.

E questiona mais uma vez: “Afinal onde estão as famosas provas dos crimes que me imputam e ao certo de que crimes concretos estamos a falar? E essa a resposta que falta é enquanto faltar nem esta prisão se justifica nem este processo pode ter futuro”.

No fim da entrevista por escrito, garante que não se sente sozinho: “Tenho comigo os meus amigos de sempre e os que sempre quis ter”.  

sonia.graça@sol.pt