Fábrica pronta há dois meses mas parada por falta de luz

O proprietário de uma fábrica de produção de papel em Viana do Castelo queixou-se hoje da “atitude abusiva” da EDP por “dificultar” o fornecimento de luz à unidade pronta desde Novembro, num investimento de 30 milhões de euros.

"É um comportamento abusivo, denunciador de uma posição de exclusividade de mercado e monopólio por parte da EDP. Numa altura em que o país precisa de investimento e de criação de postos de trabalho não se entende que um processo iniciado em 2012 ainda não esteja concluído", afirmou à Lusa o empresário Nuno Ribeiro.

Em causa está o projecto de electricidade para a nova fábrica classificada pelo Governo como projecto de Potencial Interesse Nacional (PIN).

"O projecto do posto de transformação foi aprovado em 2012 pela EDP e, desde então, sofreu sucessivas alterações justificadas pela empresa de energia com mudanças introduzidas seu regulamento interno".

Esta semana, segundo o empresário, a EDP informou que o processo "deverá estar concluído em Março".

"Esta morosidade é insustentável e inaceitável", frisou.

Contactada pela Lusa, fonte da EDP garantiu que a empresa estava informada "desde o início, dos prazos necessários para a conclusão do processo", e explicou que "a construção da linha de AT tem que cumprir todos os trâmites legais, projecto, licenciamento e vistoria. Só após todas as etapas se poderá efectuar a ligação".

"Só em 30 de Janeiro de 2015 recebemos o projecto da instalação para nossa avaliação e verificação das condições, para a ligação à nossa linha", adiantou a fonte.

Disse ainda que o fornecimento de electricidade "ficará concluído em Abril de 2015".

"A linha de Alta Tensão (AT) que ligará às instalações estará concluída na primeira quinzena de Fevereiro. Após a sua conclusão passaremos à fase de vistoria pelas instâncias oficiais", sublinhou a mesma fonte.

A Fortissue está pronta desde Novembro para produzir papel para as outras duas fábricas do grupo Suavecel, instalado na Zona Industrial de Neiva, em Viana do Castelo.

O impasse de quase três anos representou, segundo Nuno Ribeiro, um "agravamento exponencial dos custos" com o fornecimento eléctrico uma vez "as tarifas foram entretanto actualizadas".

"O valor inicial que nos apontaram rondava os 90 mil euros. Até agora, já gastamos mais de um milhão de euros porque fomos obrigados a construir uma subestação própria", explicou.

O empresário lamentou a "intransigência" manifestada pela EDP apesar dos "esforços" desenvolvidos pela Agência para o Investimento e Comércio Externo de Portugal (AICEP) para acelerar o processo, e da reclamação que o grupo apresentou junto do provedor da empresa de energia.

"Tenho uma fábrica totalmente pronta que já deveria estar a produzir 120 toneladas de papel por dia. Está parada e os 35 trabalhadores que contratei em Setembro estão sem fazer nada", desabafou.

O grupo produz papel higiénico, rolos de cozinha, guardanapos, lenços de papel e fraldas descartáveis. Além de marcas próprias, fornece ainda produtos de marca branca para todas as grandes cadeias nacionais de distribuição, além de Espanha e França.

Nas duas fábricas, que empregam cerca de 170 trabalhadores, o volume de negócios, em 2013, foi superior a 40 milhões de euros. De acordo com estimativas apontadas anteriormente à Lusa, em 2014 o grupo previa atingir uma facturação de 60 milhões de euros.

Lusa/SOL