Nos bancos comerciais só é permitido levantar dólares a quem apresente bilhete de passagem para o exterior – situação que desagrada sobretudo expatriados, que fazem remessas mensais.
A queda do preço do petróleo e a escassez de divisas em Angola fizeram com que a procura de divisas tenha disparado no mercado informal: a nota de 100 dólares subiu de 11 mil para 13.500 kwanzas. “São os estrangeiros quem mais procura dólares. Têm de enviar dinheiro para as famílias”, diz ao SOL a quinguila Maria Luiza, acrescentando: “Neste momento não tem sido fácil encontrar dólares em Angola. O número de notas em circulação é escasso”.
O economista Samora Machel defendeu, em declarações ao SOL, que o Banco Nacional de Angola (BNA), na qualidade de regulador do sector bancário, deve criar mecanismos que facilitem a obtenção de divisas estrangeiras a grupos específicos. Pessoas com problemas de saúde e que precisam de receber tratamento urgente no estrangeiro e estudantes na diáspora que façam prova documental de frequentarem estabelecimentos de ensino no exterior devem ter acesso mais fácil a dólares: “O bom senso deve funcionar”.
O também economista Celso Borja concorda. “Os doentes e estudantes devem fazer parte das prioridades, basta que se prove a razão da aquisição dos dólares”, sustenta.
O BNA anunciou uma reunião extraordinária para avaliar a política monetária, mas não especificou data. O Governo também aprovou o orçamento rectificativo que vai baixar as perspectivas de receita fiscal, devido à queda do preço do petróleo. Os pormenores do documento devem ser conhecidos e aprovados no Parlamento até final de Fevereiro.
Empresas portuguesas apreensivas
O Executivo de José Eduardo dos Santos também já aprovou uma redução das quotas de importação para este ano, de forma a limitar a saída de divisas.
Em Portugal, o sector das bebidas deve ser o mais penalizado, já que Angola tem um peso relevante nas exportações. Há três empresas afectadas: Unicer, Central de Cervejas e Sumol+Compal, que vendem cervejas, refrigerantes e água a Angola.
Estes grupos não divulgam perdas potenciais, mas admitem estar preocupados. João Abecasis, presidente da Unicer, que vende sobretudo Super Bock e Cristal para Angola, reconhece que os limites à entrada de cerveja vão provocar “uma clara insuficiência da oferta face à procura, com os consequentes riscos de aumento dos preços e da crescente insatisfação dos consumidores angolanos”.
Quanto à água, os limites poderão fazer com que a importação seja “manifestamente insuficiente para garantir o normal abastecimento ao povo angolano”. O responsável pede que sejam considerados os “ajustamentos necessários ao bom funcionamento do mercado e à satisfação dos consumidores angolanos”, através da revisão dos limites à importação.
A Central de Cervejas, que vende sobretudo Sagres para Luanda, já admitiu preocupação com as novas quotas. “Estamos a tentar perceber o impacto desta medida. Vamos analisar nos próximos dias, mas estamos apreensivos”, disse à Lusa, em Luanda, Paulo Gomes, director para Angola do grupo.
Quer a Unicer quer a Central de Cervejas têm planos para produzir Super Bock e Sagres localmente, através de unidades de fabrico em Angola – planos que não devem concretizar-se em 2015.
O mesmo não sucede com a Sumol+Compal, cujo investimento de 51 milhões de dólares numa fábrica em Angola deverá estar concluído no segundo semestre do ano. A perspectiva é mais optimista: as importações deverão ser substituídas por produção local. Nesta empresa de sumos, a escassez de divisas em Angola “é um motivo de preocupação, mas não põe em causa a confiança no potencial deste mercado para as nossas marcas”, diz fonte oficial do grupo.