Estas declarações à imprensa belga causaram algum alvoroço em Bruxelas, levando por isso aquele responsável europeu a evitar para já conceder mais entrevistas, alegando a “agenda muito preenchida”, mas mantendo tudo o que havia declarado publicamente.
Para este especialista, com gabinete instalado em Bruxelas, a ameaça terrorista, actualmente, “é alimentada por um novo factor, o da concorrência entre si, entre a al-Qaeda e o Estado Islâmico, com a primeira a tentar afirmar que não foi passada para segundo plano, como se viu recentemente com os ataques em Paris”.
O mesmo responsável salienta haver “uma guerra feroz de protagonismo entre a al-Qaeda e o Estado Islâmico pela liderança da jihad global”, reconhecendo “a máquina de imprensa do Estado Islâmico”, ao ponto de recomendar “uma melhoria da nossa comunicação no Ocidente”.
Preocupação com combatentes regressados
O belga Gilles de Kerchove, de 58 anos, embora destaque terem sido frustrados ataques terroristas iminentes e o desmantelamento de grupos na França, Bélgica, Reino Unido e Alemanha refere “não poder garantir a vitória das autoridades em 100 por cento”.
O regresso à Europa dos combatentes do Estado Islâmico na Síria e no Iraque é uma das principais preocupações em Bruxelas em face da nova vaga de terrorismo que sacode o Velho Continente.
Gilles de Kerchove disse ainda que “os programas de retirada e de reabilitação serão à partida melhores soluções” para uma parte daqueles que regressam aos seus países de origem, do que a prisão, “que deverá ser só para os que voltarem com mãos cheias de sangue”.
Este jurista belga, que ocupa há sete anos o cargo, tem viajado pelas zonas mais problemáticas do terrorismo, na Ásia e em África, revelando-nos que pela sua experiência “cada caso tem de ser analisado e a prisão apenas será precisa para situações mais extremas”.
Gilles de Kerchove salientou “saber-se o quanto as prisões são incubadoras de extremismo” e a propósito fornece o exemplo dos atiradores de Paris, em que “antes tinham passado um período presos precisamente na companhia de radicais, o que não é aconselhável”. Por isso mesmo tem vindo a ser defendida nos fóruns europeus a dispersão prisional, ao longo do parque penitenciário de cada país, como sucede com os presos da ETA em Espanha.