Anda agora meio mundo desvanecido com a pujança comunicacional do Governo de machos alfa subitamente produzido pela Grécia.
Ainda por cima da esquerda radical, embora aliados à direita, mas isso é para comentar em surdina, como se nada fosse.
E na verdade até nem é. A extrema esquerda gosta mais da direita do que da esquerda moderada que, nos dias bons, lhe rouba votos e reduz o território. Mas há muito tempo que a esquerda social-democrata não tem dias bons: parece falha de ideias e de espinha dorsal.
De repente, a esquerda mostra dois gregos bem-parecidos, desengravatados, camisas soltas e sorrisos iluminados de propaganda dentária, prometendo a solução para a crise, a economia, a Grécia, a Europa e o mundo.
Dizem que não querem nem mais um tostão dos alemães e que tudo se resolverá sem mais gastos, para felicidade universal. Oxalá consigam inventar essa nova roda, um excel dos deuses que transfigure o défice em ambrosia e a Europa num Olimpo.
O que entretanto me confunde é que a União Europeia nada tenha a obstar a um Governo composto exclusivamente por homens.
Não custa um euro defender esse direito democrático evidente a uma representação governativa que cumpra os mínimos olímpicos, já não digo de paridade, mas pelo menos de justiça social.
Mais extraordinário ainda é que tanta gente se apresse a dizer que isso agora não interessa nada, “é secundário”, “irrelevante”, “se calhar são elas que não querem”, culminando na lúbrica cereja que coroa o bolo da misoginia: “O que importa é a qualidade dos ministros. Por esse andar, também teria de haver uma percentagem de jovens ou de afro-descendentes”.
Sim, o sistemático afastamento dos centros de decisão de metade da população é um pormenor; quando elas mostrarem capacidade, logo as convocaremos.
Fossem os rapazes do Syriza de direita, engravatados e menos dotados pela natureza, estas mesmas vozes bradariam contra o escândalo da discriminação das mulheres. Sendo de esquerda, bonitinhos e pregadores de um amanhã cantante, vale tudo.
Pode ser que o Syriza seja o primeiro livro de auto-ajuda capaz de ajudar mais do que o seu autor; pode ser que, se nos concentrarmos muito no fim da crise, ela acabe.
A trôpega União Europeia levou anos a entender a história do burro do espanhol (aquele que inesperadamente morre quando parecia já acostumado a não comer), e já antes do fenómeno Syriza-alfa tomara medidas para pôr cobro aos efeitos autofágicos da austeridade. Tenho dúvidas de que seja tão simples como crê a força alfa da Grécia.
Entretanto, em França, o ex-macho alfa Dominique Strauss-Khan está a ser julgado por “proxenetismo agravado”, em risco de passar vários anos na prisão por alegadamente ter sido o principal instigador e beneficiário de uns saraus “libertinos” que envolviam trabalhadoras do sexo.
Ora a União Europeia patrocinou há tempos um vídeo explicando que o sexo é um trabalho como outro qualquer, e mostrando como as vidas da Júlia prostituta e da Ana arquitecta eram igualmente fascinantes e dignas. Em que ficamos? O trabalho sexual não pode ter empresários? E a arquitectura, pode?