Quem conhece a ministra de outros tempos, sabe que sempre foi favorável à legalização das drogas leves – ficaram conhecidas as divergências com o então marido, membro da opus dei. A proposta de Paula Teixeira da Cruz fica bastante longe do que se passa em vários estados norte-americanos, no Uruguai ou mesmo na Holanda, onde a venda é livre. A discussão, no entanto, está a ser conduzida pelas questões morais e não pela 'vida' dos consumidores e tudo o que rodeia o mercado associado ao consumo de drogas leves. Quem conhece o fenómeno sabe perfeitamente que a canábis de hoje nada tem a ver com a de outros tempos. Hoje a substância activa é muito mais forte, devido ao cruzamento de várias espécies, e é por essa razão que tantos miúdos ficam esquizofrénicos e, alguns, acabam por se suicidar. Se a droga fosse legalizada o Estado podia e devia fiscalizar a qualidade da mesma. Dessa forma defenderia a vida de milhares de jovens. É sabido que em qualquer esquina das grandes cidades ou mesmo nas províncias se encontra alguém a comercializar haxixe ou erva, esta em muito menor quantidade. A percentagem de jovens que até aos 18 anos já experimentou drogas leves é elevadíssima – todos os dias milhares de miúdos fumam pelo menos um charro. Charro esse que muitas vezes foi 'produzido' em casa de algum conhecido, que comprou as sementes, mais fortes, em Espanha e fez de um quarto o 'quintal' verde, onde a rega é feita a horas estipuladas e onde a luz se vai acendendo e apagando para acelerar o crescimento.
Combater esta realidade pela repressão ou com a hipocrisia do assobiar para o lado, parece-me uma aberração nos dias de hoje. Recorde-se que o consumo das drogas leves já está despenalizado. Teixeira da Cruz propôs foi a despenalização da venda – o que já acontece com muitos fármacos… Mas quem pensa que algum dia poderá acabar com essa realidade, do consumo, deve viver em Marte. E, sim. A ministra tem razão quando defende que dessa forma se controlava um pouco melhor a criminalidade organizada e mesmo os grupos terroristas que se alimentam do tráfico, além de que o Estado ganharia o suficiente para apostar em campanhas de prevenção. Os consumidores também teriam menos problemas de saúde…