Guterres arranjou um belo bico-de-obra ao PS

Depois de tudo o que já se disse e desdisse sobre o tema, falta ouvir do próprio António Guterres se é ou não é candidato a Belém. Porque, se Guterres desistiu mesmo de concorrer às presidenciais, está obrigado a explicar várias coisas – ao país em geral e ao PS e à esquerda em particular.…

Seja qual for a resposta, Guterres não sai bem nesta fotografia: dissimulação política, manobrismo partidário, egocentrismo calculista, vontade de atrapalhar o caminho e a vida dos outros – todas as interpretações se tornam possíveis e legítimas.

O resultado prático desta novela mal contada é que o PS e António Costa ficam cingidos a apoiar candidatos de recurso e de segunda categoria, como António Vitorino, ou mesmo escolhas de terceira e quarta linha, como Maria de Belém, Sampaio da Nóvoa ou Carvalho da Silva. E o que poderia ser uma mais-valia presidencial a potenciar o sucesso do PS nas legislativas torna-se, de repente, um belo bico-de-obra partidário. Bonito serviço.

À direita, o passo atrás de Santana Lopes veio demonstrar que o provedor da Santa Casa percebeu uma evidência: se avançasse já em Abril, arriscava-se a ficar cinco ou seis meses sozinho em palco, sem apoios de vulto, seja de figuras do mundo empresarial, da vida académica ou, até, de qualquer histórico do PSD. Seria difícil resistir ao desgaste de uma candidatura só com apoio dos Ruis Gomes da Silva e Frexes do costume, mais uma dúzia de autarcas. Era poucochinho.

E Rui Rio, se está a pensar ocupar o vazio deixado por Santana, devia pensar duas vezes. Porque, limitado aos apoios dos Miguel Veigas e outros vetustos comendadores do regionalismo nortenho, corre o risco de poucos o levarem a sério. 

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