Falta capital à economia portuguesa – não devemos, assim, torcer o nariz a dinheiros chineses ou angolanos. Nem criticar a venda de empresas a estrangeiros – se a dívida é grande, têm que se vender as jóias. É a vida…
Já aqui apontei como uma das raízes dessa carência de capital as indemnizações meramente simbólicas aos grupos privados nacionalizados em 1975. Vários deles regressaram depois, mas com pouco dinheiro.
Por outro lado, o individualismo português é avesso a chamar sócios para o seu negócio. E, em geral, o dono não gosta de ser condicionado na sua acção por gestores profissionais.
Aliás, o principal motivo para a descapitalização das empresas nacionais é a má gestão de muitas delas. Em média, o grau de literacia dos nossos empresários é inferior ao dos trabalhadores (o que reflecte o grande número de microempresas entre nós existentes). Mas prestigiados gestores de grandes empresas mostraram que, afinal, valiam pouco – veja-se o BES/GES ou a PT.
Sinal de má gestão foi a surpresa e o desnorte de numerosos empresários portugueses perante factos previsíveis, como a globalização em geral e em particular a entrada da China na Organização Mundial do Comércio e no mercado mundial, ao mesmo tempo que desaparecia o proteccionismo têxtil do Acordo Multifibras. Uma minoria notável de empresários sobreviveu, apostando na subida na escala de valor, em particular no calçado e nos têxteis. Mas a reacção predominante foi insistir em concorrer com base em mão-de-obra barata, até fechar a empresa.
O empreendedorismo não está na massa do nosso sangue. Mesmo quando se lançam novas empresas, de bom nível tecnológico e capacidade exportadora, existe a tendência para as vender a gigantes estrangeiros, uma vez atingidos certos níveis de sucesso.
Assim, Portugal precisa de atrair capital estrangeiro. O ideal seria investimento directo, para criar e gerir novas empresas. Mas a concorrência do Leste europeu afastou do nosso país o investimento directo estrangeiro. Aquela zona, hoje quase toda integrada na UE, está mais próxima dos grandes mercados compradores, como o alemão, e dispõe de trabalhadores com boa formação mas ganhando salários inferiores aos nossos.
O PS propôs que os vistos gold sirvam também para capitalizar empresas. Vale a pena tentar, mas a experiência não permite optimismos.
Se a maioria dos gestores privados não é famosa, deveria o Estado intervir mais na vida empresarial? Não, seria ainda pior. Recordemos os longos anos (1975-1989) em que grande parte das empresas de alguma dimensão esteve nacionalizada. Globalmente, essas empresas perderam valor.
E a famosa golden share (acção detida pelo Estado com excepcionais poderes de intervenção na empresa) serviu para empurrar a PT para a desastrosa venda da sua participação na brasileira Vivo e comprar parte da também brasileira Oi, muito menos eficiente, com os resultados que se conhecem.
Um bom número de portugueses descobriu recentemente que na agricultura se pode ganhar dinheiro em Portugal. Descoberta para que contribuíram alguns estrangeiros que vieram para cá trabalhar a terra. Oxalá algo semelhante aconteça noutros sectores.