A CDU não quis saber da coligação de esquerda proposta pelo PS. O BE e o PND também disseram não à coligação. O CDS – com o ingrato papel de ser Governo no continente e oposição na Madeira – vai sozinho a votos com a esperança de ser 'muleta' do futuro Governo Regional, caso o PSD não tenha maioria absoluta.
Para compor o extenso boletim de voto há ainda a Plataforma Democrática (coligação PPM/PDA), o PNR e a grande novidade desta eleição, o Juntos pelo Povo (JPP), reconhecido recentemente pelo Tribunal Constitucional (TC) como o 21.º partido português. Ontem, o Partido Democrático Republicano, de Marinho e Pinto, foi também legalizado pelo TC.
Novo partido baralha contas
A entrada em cena do JPP – dos irmãos Sousa, que passou de movimento de cidadania a partido político – veio baralhar ainda mais as contas para a oposição regional. No concelho de Santa Cruz, onde o JPP está enraizado à custa dos votos da oposição ao PSD, há esperança de eleger deputados à Assembleia Regional.
De resto, na Madeira, não são claras as fronteiras entre esquerda e direita. As ideologias estão diluídas e todos disputam o eleitorado numa luta pela sobrevivência política e financeira. A redução em 40% das verbas das subvenções públicas aos partidos, já por indicação do novo líder do PSD-Madeira, agravou a situação dos partidos. Há agora apenas 616 mil euros de subvenções para custear a campanha dos que elejam deputados.
Os pequenos partidos beneficiam da existência de um círculo único, no qual todos os votos contam para eleger os 47 deputados que compõem a Assembleia Regional. Para alguns não será fácil cumprir a obrigação de apresentar 47 candidatos efectivos e 47 suplentes. Ainda não se aplica, porém, a limitação de mandatos que Miguel Albuquerque quer aprovar, nem tão pouco a lei da paridade.
Albuquerque exclui adversários internos de listas
No PSD-Madeira, entretanto, depois do unanimismo em torno do novo líder, no Congresso de 10 e 11 de Janeiro, a divulgação dos nomes dos candidatos escolhidos por Miguel Albuquerque gerou algum incómodo. Terão ficado de fora nomes afectos às cinco candidaturas que disputaram a liderança do partido. O PSD de Albuquerque é agora mais urbano e menos rural e isso tem gerado críticas que os demais partidos já tentam capitalizar. O socialista Victor Freitas elogia a abrangência da candidatura que lidera.
“Esta lista tem deputados de todos os [onze] concelhos da Região nos primeiros 24 lugares, que é o valor indicativo que atribui a maioria absoluta no parlamento regional. Esta é uma lista que olha para a Região Autónoma como um todo”, revelou terça-feira o líder do PS-Madeira e cabeça-de-lista da coligação PS/PTP/MPT e PAN, Victor Freitas. A lista da coligação conta com 57% de candidatos de fora do município do Funchal, 43% de mulheres, 23% de jovens e 17% de independentes, realça ainda o socialista. “Vamos para estas eleições com um objectivo: ter mais um voto do que o PSD, formar governo, fazer a mudança e combater a austeridade”, anunciou.
Protagonismo do líder socialista contestado
A estratégia de Victor Freitas, porém, não é pacífica. Desde que foi eleito em Congresso, em Janeiro de 2014, que não abdicou de ser ele próprio o candidato a presidente do Governo Regional. Nem sequer admitiu que a coligação fosse encabeçada por uma personalidade consensual – facto que inviabilizou a coligação pré-eleitoral com o CDS.
Ainda se colocou a hipótese de surgir em cena um candidato tipo Paulo Cafôfo (actual presidente da Câmara do Funchal), mas a estratégia de Victor Freitas foi ratificada pela Comissão Política Regional do PS. A oposição lamenta que se possa perder uma “oportunidade histórica” para mudar o ciclo político na Madeira e que tenha sido em vão a onda de mudança que nas autárquicas de 2013 retirou ao PSD sete das 11 câmaras da região.
Aliás, dentro da coligação liderada pelo PS, a escolha dos nomes não foi pacífica. Houve socialistas que não gostaram de ver o PTP de José Manuel Coelho colocar três nomes em lugares elegíveis, a JS está descontente com o 12.º lugar atribuído ao seu líder regional e Porto Santo também não acolheu bem o lugar que lhe foi reservado. Há ainda quem se questione se valerá a pena o Laboratório de Ideias do PS contribuir para a elaboração de um programa de governo de uma coligação descaracterizada.
Se as eleições de 29 de Março correrem mal, o PS-Madeira arrisca-se a ter um congresso antes das legislativas nacionais de Outubro.