"Sniper Americano" é, talvez, o filme do icónico realizador norte-americano que mais deu que falar desde Gran Torino (2008). Imponente em termos cinematográficos, apenas precisou de uma semana para bater recordes de bilheteira, tornando-se a estreia de Janeiro mais produtiva de sempre. Com muita tinta vertida fora da tela, acabou nomeado, e bem, para seis categorias dos Óscares, entre as quais Melhor Filme, Melhor Actor e Melhor Argumento Adaptado.
Assente numa história biográfica, a narrativa concentra-se na incursão militar dos EUA no Iraque, após os atentados do 11 de Setembro de 2001, e dá a conhecer a figura verídica de Chris Kyle, na pele de Bradley Cooper – com um papel irrepreensível.
Clint Eastwood mostra-nos um atirador especial – muito 'americano' –,um lado patriota da guerra, o regresso a casa de um soldado e todos os problemas consequentes. Deixa-nos mergulhar nas trincheiras do terrorismo e, por entre inúmeros disparos, permite-nos 'entrar' em cena para apontar a mira a um dilema. De um lado a vida pessoal do atirador, do outro a carreira militar. Conseguirá a balança equilibrar-se à lei da bala? Sabemos que não.
Texano e orgulhosamente nacionalista, Kyle aprendeu a usar armas com o pai e rapidamente trocou o chapéu de 'cowboy' pela farda do Comando Naval de Operações Especiais da Marinha dos Estados Unidos (SEAL). Após o 11 de Setembro, deu o 'peito às balas' do terrorismo em nome do seu país. Esteve quatro vezes no Iraque, onde registou 160 mortes – confirmadas, porque o número real pode chegar às 255.
Foi alvejado duas vezes e ferido em seis explosões. Mas a sua maior batalha teve palco na vida privada. Chega a ser uma luta desigual. Esforçou-se por ser um bom marido, um bom pai, mas o som das 'linhas inimigas' nunca parou de lhe zumbir no ouvido. Uma guerra pessoal que nos prende à tela. O retrato da dor do pós-guerra é fiel. E assustadora…
A exímia actuação de Bradley Cooper permite-nos perceber isso na perfeição. O humanismo de Sienna Miller também ajuda. 'Sniper Americano' não tem palha, tem ritmo e um toque emocional. É um olhar refrescante sobre a luta contra o terrorismo, pelos olhos de quem a viveu de perto.
Faltou, talvez, arranjar um bebé de verdade, já que o filme ficou sob fogo cruzado com o boneco falso utilizado numa das cenas paternais de Kyle. Propagandas à parte, uma das críticas apontadas à realização, se não gostar de conhecer o 'outro' lado da guerra do Iraque, concentre-se na história desta lenda do exército norte-americano.
Um verdadeiro tiro no porta-aviões do terrorismo.