Um ensaio online assinado por um apoiante do EI que diz estar na Líbia, e traduzido pela organização Quilliam – que estuda o extremismo islâmico -, sublinha a importância estratégica da costa líbia: está virada para os Estados do Sul da Europa, “a que se pode facilmente chegar até com barcos rudimentares”.
O documento, que a Qulliam considera ser “propaganda oficiosa”, pode no entanto dar um vislumbre de eventuais pretensões dos terroristas: “O número de viagens de imigração ilegal a partir desta costa é enorme, estimado em cerca de 500 pessoas por dia”, escreve o apoiante do EI, rematando: “Se isto fosse ainda que parcialmente explorado e desenvolvido estrategicamente, poderia lançar-se o pandemónio no Sul da Europa”.
A Líbia, cujo Governo internacionalmente reconhecido está isolado em Tobruk – enquanto o resto do país rico em petróleo enfrenta o saque de diversas milícias, grupos islamistas, al-Qaeda e EI -, pediu esta semana ao Conselho de Segurança da ONU que seja levantado o embargo de armas para que possa equipar o exército e lutar contra a “escalada do terrorismo”, nas palavras do ministro dos Negócios Estrangeiros Mohammed al-Dairi. E quer uma intervenção no país com o selo de aprovação da ONU.
O Egipto apoia o pedido, ainda em choque com o vídeo da execução de 21 coptas, às mãos do EI, na vizinha Líbia. Após a divulgação no domingo da decapitação dos 21 egípcios cristãos, na região de Trípoli, o Cairo bombardeou alvos do grupo e afirmou ter eliminado mais de 60 terroristas na Líbia.
A impunidade do Daesh – acrónimo árabe do grupo terrorista -, que já controla o Noroeste do Iraque e Nordeste da Síria, ganha terreno numa Líbia sem lei, onde o grupo tem vindo a crescer nas regiões de Derna e Sirte. O EI está a expandir as fronteiras do califado e já considera partes da Líbia como províncias.
A Itália, pela proximidade geográfica, sente o peso da ameaça do EI. Roma – alvo óbvio por albergar o Vaticano – retirou o pessoal diplomático da embaixada em Trípoli. O MNE italiano Paolo Gentiloni reconheceu no Parlamento que existe “o risco evidente de uma aliança ser forjada entre grupos locais e o Daesh”. Mas uma acção militar por parte de Roma não está na agenda. “Não podemos passar da indiferença total para a histeria.
Não há uma invasão do EI na Líbia, mas algumas milícias que se começaram a identificar com o EI”, relativizou o PM Matteo Renzi em entrevista à televisão transalpina.
Financiamento com colheita de órgãos
À lista de horrores praticados pelo Daesh pode juntar-se a denúncia feita pelo embaixador do Iraque na ONU, na terça-feira.
Mohamed Alhakim pediu ao Conselho de Segurança que investigue acusações de que o EI estaria a financiar-se através de colheitas de órgãos.
O embaixador disse que foram encontradas valas comuns no Iraque cujos cadáveres têm cicatrizes cirúrgicas compatíveis com as que se fazem, por exemplo, para colher rins. Segundo a AP, o diplomata imputou ao Daesh “crimes de genocídio” e desafiou: “Temos os corpos. Venham e examinem-nos. É óbvio que lhes faltam certas partes”.