Maldivas: Confusão no Paraíso

O arquipélago das Maldivas, no Oceano Índico, é para alguns privilegiados o cenário das férias de uma vida. Mas longe da tranquilidade das águas cálidas e turquesa dos resorts turísticos de luxo, a capital do país encontra-se por estes dias em ebulição com a detenção daquele que foi o seu primeiro Presidente democraticamente eleito.

Maldivas: Confusão no Paraíso

Mohamed Nasheed, 47 anos, do Partido Democrático Maldivo (MDP, na sigla inglesa), foi detido no domingo e arrastado em público para um tribunal de Malé, onde irá responder por crimes de terrorismo, tendo sofrido ferimentos ligeiros durante o incidente.  

Em causa está uma ordem de detenção contra um juiz decretada em 2012 pelo então chefe de Estado. O magistrado, Abdullah Mohamed, que liderava a máxima instância de justiça criminal das ilhas, era suspeito de corrupção. Nasheed acabou por se demitir nesse ano perante um levantamento da polícia e das forças armadas, no que foi então descrito por observadores como um golpe militar.

Uma primeira acusação contra Nasheed por abuso de poder caiu por terra na semana passada. No entanto, surge agora outra acusação por “rapto e detenção de pessoa inocente”, o que no enquadramento legal maldivo equivale a “terrorismo”.

O MDP afirma que o caso se trata de uma manobra política para silenciar a crescente oposição ao actual Presidente Abdullah Yameen. Eleito em 2013, o actual chefe de Estado entrou rapidamente em conflito com colegas de Governo e magistrados, observa a BBC. Yameen ordenou a detenção do seu ministro da Defesa, que acusou de planear um golpe de Estado, e demitiu o procurador-geral das Maldivas.

A vizinha Índia e o Reino Unido, antiga potência colonial, expressaram preocupação pelos recentes acontecimentos no arquipélago e com o tratamento do antigo Presidente, a quem terá sido recusado advogado e tratamento médico.

Praias desertas, resorts de luxo e uma cozinha de influência oriental atraem milhares de pessoas às Maldivas

As Maldivas são o país mais pequeno do continente asiático, somando cerca de 400.000 habitantes numa área total de apenas 298 quilómetros quadrados. Para além da pesca, sobretudo de atum, a economia da república baseia-se na indústria turística.

O arquipélago encontra-se no entanto ameaçado a prazo pela subida do nível das águas do mar, uma vez que o ponto mais elevado do território mede apenas 2,4 metros de altitude.

A imagem do país como destino turístico idílico encontra-se também ameaçada pelas recorrentes crises políticas e pelo crescimento do Islão radical em algumas das ilhas do arquipélago predominantemente muçulmano – que de resto se encontram vedadas a estrangeiros, cuja presença na república está limitada à capital Malé e às estâncias balneares.

pedro.guerreiro@sol.pt