Os subscritores da carta aberta, dirigida a Pedro Passos Coelho, são menos de metade dos do Manifesto de Março do ano passado, mas espelham a mesma original harmonia ideológica da coligação do Governo grego – desde as franjas da esquerda radical aos antigos conservadores de direita.
Entre os signatários ombreiam antigos ministros, como Diogo Freitas do Amaral e Bagão Félix – decerto inconformados com a indiferença que o país lhes dedica -, e radiosos proto-candidatos presidenciais, como Sampaio da Nóvoa e Carvalho da Silva, que não desperdiçam nenhuma oportunidade de se mostrarem, e ao seu pensamento estruturado, através das frinchas da boca de cena.
Outros figurantes contumazes incluídos nas listas são o açoriano Carlos César, agora alçado a presidente do PS – graças à sua comprovada lealdade às lideranças do partido -, a par de Vítor Ramalho, um indefectível soarista de assinatura reconhecida.
Omnipresente, distingue-se o dedo de Francisco Louçã, que saltou do naufrágio do Bloco para navegar por conta própria, sempre com os media por perto, não fosse ficar esquecido à sombra da Academia.
A missiva a que se vinculam agora os 32 – menos densa do que a dos 74 -, revê a matéria e deixa cair a “resolução (…) tendente à reestruturação honrada e responsável da dívida” para propor agora uma “abordagem robusta que promova soluções realistas e de efeito imediato (…)”.
Ao reclamarem, compungidos, que não se “humilhem estados-membros”, os 32 afinaram pelo mesmo diapasão de Louçã.
O apelo não comoveu, todavia, o Eurogrupo, que deu um prazo até hoje à Grécia para mostrar que é capaz de honrar os compromissos, enquanto aceitou que Portugal antecipe o reembolso de metade do empréstimo do FMI, com significativos ganhos para o Tesouro.
Duas decisões do Eurogrupo, tomadas por unanimidade, perante dois países que não se confundem, ainda que haja quem tente. Passos Coelho não errou na aposta. E Cavaco Silva fez bem em marcar distâncias, lembrando o óbvio.
Por muito que custe aos arautos do costume, sem apertar o cinto, nem o Governo de Lisboa nem o de Dublin teriam conseguido 'saídas limpas' do programa. Os mercados reconheceram-no. Pelos vistos, os 32 não deram por isso. Para consolo dos egos, talvez preferissem o contágio das aflições gregas a bater-nos à porta.
Há uma certa vertigem nisto. Ou um estranho fascínio diante dos novos actores vindos da cultura dos extremos – e avidamente disputados pelo espectáculo mediático, na lógica de que nos falava Vargas Llosa.
Se os radicais gregos impusessem a sua vontade, os Podemos ou Marine Le Pen poderiam festejar.
Porém, mais isolado, Tsipras também poderá ter a tentação de piscar o olho a Moscovo. Embora com o rublo em queda livre, Putin tem sempre à mão uma boa salada russa…