Base familiar perde famílias e crianças

É com orgulho que os terceirenses reproduzem ainda hoje as palavras tantas vazes saídas da boca dos americanos. 

Base familiar perde famílias e crianças

“It's a Base Family”, repetiram vezes sem conta, referindo-se à Base das Lajes e em agradecimento pelo modo como eram acolhidos numa ilha que passou a viver de e para a Defesa americana.

Durante anos, e enquanto a América mostrava a sua força na Guerra Fria mas sobretudo na  Guerra do Golfo, os familiares dos militares integrados nos Açores acompanhavam-nos. Era regra: o Departamento de Defesa dos EUA enviava para a Terceira militares em missões de 24 meses, no mínimo, e no máximo de 36 meses. Com eles vinham as famílias, que tinham à sua espera condições únicas.

Durante anos, os militares eram convidados a viver fora da Base, para se relacionarem com os locais e para alavancar a economia da ilha, que cada vez mais girava à volta da sua presença. Quanto mais elevada a patente do militar, mais o comando americano contribuía em dinheiro  para o arrendamento das casas. 

“Eles sentiam-se seguros aqui. Não era propriamente uma Base militar no Afeganistão ou no Iraque. Internamente, havia muitos militares a voluntariarem-se para vir para os Açores”, explica José Tristão, lembrando a inexistente criminalidade na ilha. Os carros patrulha – com um militar americano e outro português lá dentro – garantem a segurança dentro e fora da Base, sobretudo nas zonas residenciais onde se concentravam militares.

Acrescem os serviços prestados pelos locais: limpeza, jardinagem ou babysitting. Mariana Rocha, 19 anos, chegou a cuidar da filha de um oficial que vivia no Porto Martins com a esposa. Chegou a casa do militar recomendada pela mãe, que trabalhava numa grande superfície comercial da ilha e que, no tempo livre, fazia babysitting. “Num sábado em que entrava às 16h e saía às 2 horas da manhã recebia 80 euros. Se trabalhasse sábado e domingo recebia 180. Ninguém paga como eles”, garante. O oficial já regressou aos EUA. Cumpriu uma missão de dois anos na Terceira. Mariana ganha agora a vida num café. “Hoje é muito mais difícil arranjar trabalho nas casas dos poucos americanos que  vivem cá fora”, lamenta a jovem.

Desde há dois anos que as comissões de serviço na Base foram reduzidas para 12 meses. Além disso, os militares que se deslocam para a ilha são cada vez mais novos (20, 21, 22 anos), alguns deles com apenas uma estrela. “Significa que acabaram a recruta e vêm aprender para a Terceira”, explica um ex-trabalhador. Chegam sem filhos, porque estão proibidos de trazer família, e com menor poder de compra. Os parques infantis continuam em frente às casas, mas faltam crianças.

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ricardo.rego@sol.pt