O cachecol de Varoufakis

Yanis Varoufakis é o responsável pelo súbito interesse do mulherio na situação política e económica grega. O recém-eleito ministro das Finanças grego, quais Beatles nos anos 70, faz desmaiar a mais incauta eleitora, a mais inocente cidadã. Raras vezes se têm visto galãs destes na política.

Merkel diz que não reúne sozinha com ele. 

Está o baile armado, como se costuma dizer.

No passado 11 de Fevereiro, durante uma reunião do Eurogrupo, o homem de quem se fala, Varoufakis, apareceu com o seu look característico (muito descontraído, de camisa por fora das calças, que são jeans, e sobretudo aberto), muito teenager, muito ‘ando-na-faculdade-e-já-estou-a-estagiar-por-isso-tenho-de-me-vestir-um-bocado-melhor’, e caiu-lhe meio mundo em cima. Onde é que já se viu o ministro das Finanças grego, esse esquerdalho, esse teórico que não sabe nada da prática (a julgar pelo estado das coisas, os outros que têm andado a praticar também não lhe ficam muito atrás), o rei do bluff, aparece de cachecol da conceituadíssima marca britânica Burberry? Um desplante. O mundo ficou chocado. Porque a responsabilidade social de Varoufakis, ao ousar exibir um cachecol Burberry de cerca de 500 euros, sendo ele grego e estando a Grécia na fossa, não é uma afronta, é um insulto a toda a União de Estados-Membros, que lhe andam a bancar a mesada. Calma. O Syriza ainda nem há um mês foi eleito e o homem nem andava muito pela Grécia. 

Mesmo assim, o mundo atirou-se ao ar e as redes sociais pediram explicações. Que Varoufakis deu, dizendo que o cachecol foi uma prenda da sua mulher, há 12 anos. Mas nem assim o pessoal acalmou, porque parece que queria ver sangue. Muito sangue. E cabeças a rolar. 

Ninguém se terá lembrado que os Mugabes desta vida também andam todos ‘bem montados’ com o seu povo a morrer à fome, pois não? Ninguém se terá também lembrado de perguntar a Mugabe, no Twitter, quanto é que lhe custou a casa, e que devia dar explicações ao povo do Zimbabué. Não. Se calhar porque Mugabe é um ditador, e isso era capaz de lhe cair mal… 

Mas o que é que leva a comunidade internacional a julgar tão fervorosamente um cachecol? A simbologia social, ética e estática do seu preço. Como cronista essencialmente de moda, tenho a dizer que este julgamento do ministro das Finanças grego é apenas uma forma de reflectir sobre o tratamento que a Europa dá aos seus Estados-Membros, neste caso, à Grécia. 

À semelhança de uma mãe chata, a Europa pede contas à filha adolescente, a Grécia, que anda a gastar a mesada em futilidades. Oxalá fosse só isso. Oxalá a mãe Europa reparasse também nas ‘ganzas’ que os filhos andam a fumar, para terem paciência para a aturar, a ela e aos seus ensinamentos decrépitos, moralistas e prenhes de razão cega. Oxalá a mãe Europa entendesse que a filha Grécia é uma alma muito velha. 

Mas passando à frente, porque não é sobre política que me interessa escrever hoje, é sobre economia, eis o que tenho a dizer sobre o cachecol de Varoufakis: o problema da Grécia é que andou a gastar e agora está sem ‘cheta’. E se os gregos tivessem todos comprado cachecóis clássicos Burberry há 12 anos e ainda os usassem? Estaria a Grécia em melhores ‘cachecóis’? A resposta é: sim. Quem opta por um estilo clássico e intemporal, compra de forma consciente.Hoje gasta €500 euros e parece uma atrocidade, mas amanhã não vai gastar mais. Basta que guarde o cachecol com umas bolinhas de naftalina durante os Verões quentes gregos (porque as traças adoram caxemira), e a coisa dura uma eternidade. E sabem qual é o grau de poupança de um investimento deste género? Conseguem fazer esta conta simples? – a roupa de homem é substancialmente mais cara que a de mulher, pelo que um cachecol de mulher num pronto-a-vestir ronda os €30 euros e o de homem rondará os €40. Se todos os anos, desde há 12 anos, os homens que criticam o cachecol de Varoufakis tiverem comprado um cachecol low cost a 40 euros, não só poluíram muito mais o ambiente e contribuíram para o aumento da mão-de-obra barata nos países do Terceiro Mundo, como também já gastaram o mesmo que Varoufakis em 12 cachecóis, dos quais não reza a história. 

Mesmo sendo teórico, há que confiar em quem comunica valores estéticos sólidos e altamente simbólicos, como o é o cachecol de caxemira Burberry de Varoufakis. Não só demonstra que sabe comprar, como demonstra que sabe estimar, que ama a sua mulher e que é um clássico. Tudo valores muito importantes e que têm vindo a cair a pique no momento político que vivemos na Europa.

joanabarrios.com