«Um Estado de Direito não tem presos políticos». A frase foi colocada por Maria Helena Carvalho dos Santos, ex-líder do Grande Oriente Ibérico, uma obediência maçónica activa em Portugal, ao assinar uma petição que está a circular e que pede a libertação de José Sócrates.
A professora da Universidade Nova e militante do PS admite ao SOL que assinou a petição (que ontem tinha 545 assinaturas), mas sublinha que o fez a título individual: «Acho que ele está mal preso e assinei a petição. Mas fi-lo num espírito individual que nada tem a ver com o Grande Oriente Ibérico».
No entanto, alguns dos que receberam um e-mail da socialista – a pedir que a ajudem a divulgar o documento – perceberam a mensagem de forma diferente. «É evidente que está a usar a sua base de dados de contactos maçónicos com o objectivo de veicular um interesse, não só pessoal, mas que se torna imediatamente partidário» – diz uma antiga maçona desta obediência que recebeu o apelo, garantindo não ter qualquer ligação no presente com Maria Helena Santos a não ser ter partilhado com ela rituais quando também integrava o Grande Oriente Ibérico (GOI).
O GOI é uma obediência criada por maçons espanhóis, portugueses e franceses e tem lojas mistas (com homens e mulheres), grande parte de orientação política de esquerda.
No entanto, Maria Helena Carvalho dos Santos – que se juntou a esta maçonaria depois de sair da Grande Loja Feminina de Portugal, onde foi grã-mestra entre Setembro de 2002 e Setembro de 2003 – diz não se recordar em concreto para quem enviou: «Provavelmente para alguns amigos».
‘Temos de respeitar os tribunais’
A petição pública, designada ‘Libertação do engenheiro e ex-primeiro-ministro José Sócrates’, tem como destinatário o Presidente da República, Cavaco Silva, a quem os signatário pedem que «tome medidas na libertação do arguido Sócrates».
O facto de Maria Helena Santos ter usado a sua lista de contactos com muitos maçons não agradou às outras obediências maçónicas portugueses, que não querem ser associadas a esta petição. «Como maçon, nem sequer devia ter assinar uma coisa destas pois estamos num Estado de Direito e temos de se respeitar os tribunais», diz fonte da Grande Loja Legal de Portugal, uma das maiores obediências portuguesas, considerando que, se a ex-líder do GOI tinha como objectivo tomar uma posição individual, nem sequer devia ter «usado a sua lista de contactos maçónicos» para promover a petição.
«No fim, se o tribunal considerar o ex-primeiro ministro inocente, então pode promover uma festa», refere a mesma fonte, acrescentando que a maçona devia ter-se «contido».
Fonte do Grande Oriente Lusitano (GOL), a mais antiga obediência do país, sublinha, por seu lado, que este tipo de situações apenas devem ser assumidas como pessoais. «É preciso que seja claro que é uma tomada de posição individual, afastando a ideia de ser uma iniciativa maçónica», conclui o maçon.
Entre os signatários da petição encontra-se um membro do GOL, José Manuel da Silva Carvalho Fava, pai da ex-mulher de José Sócrates e membro da loja maçónica Gomes Freire, de Leiria. «Mas aí compreende-se totalmente porque é uma questão de família», comenta outro maçon.
catarina.guerreiro@sol.pt