Madeira: CDS recorre a antigo líder para segurar eleitorado

O CDS, segundo maior partido da Madeira, recorreu ao antigo líder regional para segurar o eleitorado: Ricardo Vieira é o número dois da lista encabeçada por José Manuel Rodrigues às eleições regionais antecipadas de 29 de Março. 

O 'trunfo' serve em duas frentes. Por um lado, vai ao encontro de um eleitorado mais conservador, católico, menos populista e mais próximo da 'lavoura' – como foi exemplo a recente iniciativa centrista de apoio aos criadores que querem o gado de volta às serras da Madeira, para desespero dos ambientalistas.

Por outro lado, Ricardo Vieira é o centrista mais abalizado para negociar uma eventual coligação pós-eleitoral com o PSD, caso este não consiga maioria absoluta. Aliás, é Ricardo Vieira quem está a coordenar o grupo de trabalho que vai apresentar, em breve, o programa de Governo Regional do CDS.

Os centristas têm actualmente nove dos 47 deputados na Assembleia Legislativa da Madeira (ALM). Com a proliferação de partidos concorrentes às eleições, dificilmente conseguirão o resultado eleitoral que obtiveram a 9 de Outubro de 2011, tal como dificilmente conseguirão um vice-presidente da ALM.

Parceiros em Lisboa, adversários na Madeira
 

Ainda assim, os centristas colocaram a actual vice-presidente do parlamento regional, Isabel Torres, em terceiro lugar na lista centrista. «O CDS reuniu todas as suas tropas para uma batalha que considera crucial para a Madeira», diz ao SOL José Manuel Rodrigues.

Nestas eleições regionais, o CDS tem como adversário principal o partido que é seu parceiro de coligação no Governo da República – e num momento em que Passos Coelho e Paulo Portas dão sinais de prepararem a renovação da coligação. Uma dificuldade que não tolhe o discurso de José Manuel Rodrigues.  

Para o líder regional centrista, as eleições regionais representam «uma oportunidade história para fazer uma viragem política na Madeira e pôr fim a um ciclo de maiorias absolutas de um só partido» (o PSD). O objectivo do CDS «não é manter ou aumentar o número de deputados, é chegar ao próximo Governo Regional», clarificou. Para o atingir, há que marcar a diferença face ao Governo de Lisboa.

A lista do CDS mostra essa intenção. O actual deputado na Assembleia da República Rui Barreto, apontado como futuro líder regional do partido, surge em número quatro.  Rui Barreto tem sido um 'desalinhado' do partido e da coligação PSD/CDS que sustenta o Governo da República, tendo votado contra os orçamentos do Estado para 2013 e 2014. Um facto que lhe valeu procedimentos disciplinares. 

Rigor contra despesismo
 

Para José Manuel Rodrigues, essa é a «prova de resistência»,  segundo a qual é possível ser Governo na República e oposição na Madeira. Aliás, lembra que ele próprio cedeu o seu lugar em São Bento, em Outubro de 2012, por não concordar com a chamada TSU dos pensionistas.

O CDS conta ainda com o mandatário Teófilo Cunha, o farmacêutico que, contra todas as expectativas, ganhou a Câmara Municipal de Santana nas últimas autárquicas, em 2013. Aliás, José Manuel Rodrigues quer transpor para o futuro Governo Regional a «marca CDS, de rigor financeiro», que Teófilo Cunha implementou na autarquia de Santana. Trata-se de uma bandeira, para contrapor ao despesismo de que são acusados os governos de Alberto João Jardim.

«Estamos em condições de assumir as nossas responsabilidades. Soubemos ser o principal partido da oposição, queremos agora ser Governo», resume o líder regional do CDS.