Contudo, a grande prioridade de 2015 para a construção em Portugal é a reabilitação urbana. O presidente da CPCI adianta que essa área representa uma necessidade de 38 mil milhões de euros de investimento, para um milhão e meio de edifícios em vias de degradação. “Estamos muito longe da Europa, com apenas 7% de volume da construção para a reabilitação, enquanto na Europa isso representa 36,8%. O objectivo é acompanhar os restantes países europeus”, admite.
Estas declarações surgiram no âmbito de um debate na Ordem dos Engenheiros sobre 'Sustentabilidade dos Modelos de Financiamento para a Construção', promovido pelo jornal Construir.
Plano inicial previa obras de 30 mil milhões
Reis Campos explica que existe ainda um conjunto de infra-estruturas necessárias e urgentes para o país. Nesse sentido revela que o Governo fez aprovar o PETI 3+ – Plano Estratégico de Transportes e Infra-estruturas, que integra as 53 obras num valor total de seis mil milhões de euros. “Mas esse plano era muito mais vasto e englobava obras superiores a 30 mil milhões. Projectos que por isso foram inseridos nas candidaturas aos Fundos Europeus e ao Plano Juncker. Obras que neste momento o Governo não tem capacidade para fazer”, esclarece.
Alguns desses projectos que ainda estão por fazer são, na opinião de João Lagoas, responsável do departamento comercial da Hager, “um hospital central da zona oriental e também no Algarve”. Também a reabilitação e a renovação são os pontos fortes do sector da construção no futuro, porque não existe espaço para nova construção: “só vejo projectos novos para o sector terciário, sobretudo nos escritórios”, salienta João Lagoas.
O perigo dos mercados africanos
Carlos Matias Ramos, bastonário da Ordem dos Engenheiros, vai mais longe e refere que Portugal tem de sair deste marasmo e as questões devem ser discutidas. “Existem determinadas decisões que são tomadas sem a devida análise técnica, económica, financeira, de ordenamento do território ou de sustentabilidade, e as decisões aparecem como um 'coelho saindo de uma cartola'. Em engenharia sabemos que estas decisões são sempre políticas, mas só devem surgir depois de uma análise das várias especialidades”, salienta.
O bastonário alerta ainda para uma situação que pode ter consequências negativas para as empresas portuguesas do sector da construção. A crise económica que se está a sentir nos mercados africanos, nomeadamente Angola, pode ser prejudicial para os empresários nacionais. “Muitas das nossas empresas estão ancoradas nesses mercados em termos de facturação e as perspectivas económicas difíceis dos países africanos podem vir a ter consequências ao nível da tesouraria nas empresas portuguesas”, conclui Carlos Matias Ramos.