"Não consigo conceber que a decisão tenha sido tomada sem o Governo saber, como se fosse uma decisão que tomo na minha casa. Não acho isso possível."
"Na minha opinião foi o Governo que tomou a decisão. Foi o Governo que impediu outras alternativas, ou pelo menos, a combinação com outras alternativas".
Há uma imposição ao sistema financeiro, não houve uma negociação. Foi-nos apresentado pela Associação Portuguesa de Bancos como um facto consumado. Preocupa-me não saber as regras, como o impacto nos rácios de capital, como será contabilizado, qual o prazo para pagar e o impacto económico".
"A questão da liquidez não me preocupa rigorosamente nada", refere, explicando que para os analistas é indiferente o prazo dado para contabilizar as perdas, já que as mesmas terão logo impacto no valor das instituições.
"E espero que no fim de semana de 4 de Agosto, que quem tomou estas decisões tenha tido a mínima noção do impacto, um mínimo de consciência dos riscos para quem estão a imputar a factura [instituições que financiam o Fundo de Resolução que fez um empréstimo ao Novo Banco]."
Limite máximo para perdas com venda do Novo Banco
“É preciso um limite máximo de perdas suportável pelo sistema financeiro português”, repetiu por diversas vezes Fernando Ulrich aos deputados da comissão parlamentar de inquérito ao caso BES/GES.
“Peço imensa desculpa e com todo o respeito que tenho por todas as pessoas Governo e Banco de Portugal], mas isto obviamente tem que ter um limite. Não consigo conceber que tenham tomado uma decisão sem terem ideia do limite, sem terem definido o limite”.
Fernando Ulrich exemplifica: Se a perda com a venda do Novo Banco for de 1.000 milhões de euros, a CGD e o BCP vão suportar uma factura de 250 milhões de euros e o BPI de 100 milhões. E se a perda for do dobro – 2.000 mil milhões de euros – a CGD e o BCP vão pagar 500 milhões de euros.
“Será concebível irem todos ao mercado fazer aumentos de capital ao mesmo tempo?”, questiona Ulrich.
“Não podem resolver o problema do Novo Banco e espalhá-lo pelos outros bancos todos. Não pode ser um cheque em branco”, defende.
Além do preço do Novo Banco, o presidente do BPI lembrou ainda os riscos de litigância podem ser muito grandes. Recorde-se que há já múltiplos acções judiciais interpostas contra o BES, Novo Banco e autoridades, sobretudo Banco de Portugal, no âmbito da medida de resolução.