Quem tem acesso aos registos dos contribuintes?

Todos os oito mil funcionários do Fisco podem aceder ao sistema informático, onde constam as informações sobre os contribuintes: dados de identificação, declaração de rendimentos ou execuções fiscais. Contudo, há informação mais detalhada a que só alguns funcionários têm acesso. É o caso, por exemplo, de processos-crime dos contribuintes, que só algumas chefias podem consultar,…

O acesso aos dados fica registado?

Sim. Para entrar na base de dados do Fisco, cada funcionário utiliza um user que o identifica e ao qual acede com uma senha individual. Cada acesso deixa um rasto informático de toda a actividade feita por esse utilizador: a quantos contribuintes acedeu e que tipo de informação consultou, por exemplo.

O que se entende por acesso indevido da parte dos funcionários?

O Sindicato dos Trabalhadores dos Impostos (STI) garante que não há qualquer regra que restrinja o acesso dos funcionários do Fisco aos dados dos contribuintes. E que, por isso, até Novembro passado todos os casos de processos disciplinares eram abertos por quebra de sigilo – eram averiguados depois de notícias na Imprensa que indiciavam fugas de informação.

Como começou esta polémica?

Com o início da instauração de processos disciplinares a funcionários que acederam aos dados do primeiro-ministro, no início de Novembro passado, de que o STI desconfiou e que começou a investigar. Associou imediatamente os processos às notícias que tinham sido publicadas no final do Verão, a propósito do caso Tecnoforma, onde se dava conta de que a declaração de rendimentos de Passos Coelho referente a 1999 não constava dos arquivos do Tribunal Constitucional, como obriga a lei. Desde então, foram abertos processos e inquéritos disciplinares a quase 140 funcionários, por acesso indevido a dados.

Existe ou não uma lista VIP? 

Sim. A confirmação foi feita em duas acções de formação de inspectores tributários e funcionários pelo chefe dos serviços de auditoria da Autoridade Tributária (AT), Vítor Lourenço. Segundo a revista Visão, ocorreram a 20 de Janeiro. Nas gravações de uma das formações, o responsável diz que “existe, neste momento, um pacote de identificação de pessoas [que ocupam cargos políticos] que nós sabemos em online [em tempo real] quem está a ter acesso”. Acrescentou que foram identificados vários acessos com uma mesma senha e contou que uma funcionária foi apanhada a consultar os dados de Cavaco Silva só “porque queria saber quanto é que ganhava o Presidente”.

Quem deu instruções? 

O STI aponta o dedo ao secretário de Estado Paulo Núncio e ao subdirector-geral José Maria Pires. Este responsável, que se demitiu, assumiu que deu autorizou, a 10 de Outubro, “diversas medidas preventivas que obstassem à violação” do direito ao sigilo fiscal e devassa de dados pessoais.

joana.f.costa@sol.pt