Em entrevista à agência Lusa, o director-geral da Microsoft Portugal, João Couto, antecipou para 2015 um "ano de aceleração", mas considera que "poderá ser ainda mais se houver estabilidade política" e se o país continuar com as reformas, independentemente das eleições legislativas.
"Independentemente de o resultado ser mais à direita ou mais à esquerda, o importante é haver estabilidade, o que significa não só a cor política, mas também uma estabilidade. […] Portugal tem de continuar as reformas que tem estado a fazer e acelerar esse processo", disse João Couto.
Segundo o gestor, as reformas vão ter de continuar "para retirar os constrangimentos" que ainda existem "em várias áreas", de forma a acelerar o crescimento, tendo dado como exemplo o sector da Justiça.
" [Quanto a] estes escândalos todos que ocorreram, temos de ser muito mais rápidos a apurar os factos e a penalizar de facto quem incumpriu", frisou o director-geral da Microsoft Portugal, numa referência implícita a casos como os do Banco Espírito Santo (BES) e da Portugal Telecom (PT).
E reforçou: "Este é um dos grandes factores que surge sempre em discussão numa empresa internacional a nível internacional, [saber] se há um resultado, se já há culpados ou não há culpados e se já foram penalizados ou se não há penalizados. Isto não credibiliza o país e temos de acelerar esses processos de transformação".
João Couto considera que as eleições vão ditar o ritmo de crescimento económico deste ano e alerta para o facto de introduzirem "sempre alguma incerteza" com algum impacto na confiança dos consumidores e empresários, considerando "natural que haja algum cuidado acrescido nas decisões de investimento".
Ainda assim, prevê para 2015 "um ano de aceleração" e de "entrada num novo ciclo".
"A combinação de três factores — o desmame do Estado, a criação de uma nova geração de empresários, que olham para o mundo, e uma consciencialização das empresas de que o caminho passa necessariamente pela internacionalização – vai criar uma dinâmica positiva e um ciclo virtuoso de crescimento", estima.
O empresário lembra como era o discurso do sector empresarial antes da crise.
"Se olharmos para 10 anos atrás o discurso era: 'estamos à espera dos fundos do Estado, o Estado tem de apoiar'. O discurso hoje é diferente: 'eu fiz isto, eu fui lá para fora, estou a crescer aqui, encontrei esta oportunidade', um discurso muito mais centrado na empresa e na sua capacidade em criar valor e muito menos centrado no Estado. A grande vantagem do programa da 'troika' foi o desmame do Estado do sector privado", afirmou.
A esta realidade juntou-se o facto de as empresas terem "finalmente percebido que o crescimento passa pela internacionalização", destacou.
"As empresas de repente deixaram de ter a camisa-de-forças [do] 'sou português, estou no cantinho do mundo, ninguém me liga', para [a atitude de] 'não, eu sou igual aos outros e se tiver uma boa proposta de valor, consigo vendê-la em qualquer lado do mundo. Este caminho de internacionalização hoje é uma realidade", frisou.
João Couto aponta também que as empresas portuguesas "abriram os olhos" e perceberam também que "a internacionalização não é apenas para os PALOP (países de língua portuguesa) e que "há muito mais mundo" para além desse.
Além disso, surgiu "uma nova geração de empresários com uma dinâmica diferente" e que olha para o mercado da sua empresa a uma escala global, sem receio de competir com os melhores mercados, acrescentou.
A partir de agora, acredita, tudo o resto virá "por contaminação": "Agora ainda estamos ver os primeiros 10% ou 20% dos empresários a fazerem esta iniciativa, mas depois os outros que estão ao lado e não o estão a fazer vão dizer: 'se o meu vizinho do lado está a crescer 20, 30 ou 40% ao ano e eu não estou a crescer e até estou a reduzir e o que é diferente é a internacionalização, então tenho de ir para lá. Isso vai criar o tal espírito de contágio que vai acelerar a economia".
Lusa/SOL