Já chegámos a 2015, mas ainda não se vêem automóveis no ar, como previa o filme de 1989 Regresso ao Futuro II, cuja primeira meia hora se passava, lá está, em 2015. A longa-metragem é o segundo capítulo da trilogia que fantasiava as aventuras de Marty McFly (Michael J. Fox) através de saltos temporais a bordo de um carro que transitava entre décadas.
Por norma, a ficção corre mais depressa do que a realidade. Ao contrário do que preconizava a saga criada pelo argumentista Bob Gale e pelo realizador Robert Zemeckis, ainda não entramos em casa depois de um sensor nos medir os dados biométricos; os nossos cães não passeiam sozinhos na rua com trelas automáticas controladas à distância; e o café nas pastelarias ou bares não é servido por robôs que têm ecrãs de televisão no lugar das cabeças. Porém há pormenores em que Regresso ao Futuro II se revela premonitório.
Numa altura em que os smartphones se democratizaram, as videochamadas são uma forma de comunicar comum. Em 1989, o filme antecipava esta realidade, mas com algumas diferenças. Na ficção a comunicação fazia-se, curiosamente, através de cabines telefónicas (e não de telemóveis),com as imagens aaparecerem num ecrã fixo, num misto entre a aplicação Skype e uma rede social, com acesso a informação personalizada sobre o interlocutor. À luz do que sabemos hoje podemos encarar este momento como uma premonição, mesmo que arcaica, do Facebook.
Outra das previsões em que o filme acertou foi o triunfo dos plasmas. Há um momento em que a personagem de Michael J. Fox visita o Cafe 80s e o estabelecimento está cheio de objectos de outros tempos, como os televisores de cinescópio – e a nostalgia com que olhamos hoje para eles é semelhante à transmitida no filme.
Mas as profecias mais incríveis que se concretizaram foram outras. Os óculos high tech – semelhantes aos Google Glass, com câmara incorporada e acesso a vários tipos de aplicações e jogos -, e o famoso skate sem rodas, que segue um princípio de levitação magnética estão no topo da lista. A tábua, intitulada Hendo, foi concebida no final de 2014 com o objectivo de começar a ser comercializada a 21 de Outubro deste ano, a data exacta da chegada de Marty McFly ao futuro. Para financiar o projecto, foi criada uma campanha de crowdfunding, mas a acção não conseguiu angariar os cerca de 200 mil euros necessários para viabilizar o projecto. Ainda assim, 11 pessoas garantiram a produção da sua hoverboard (como se intitula no filme), ao terem pago 10 mil euros por skate.
Outro ponto em que Hollywood acertou foi na presença de hologramas no dia-a-dia. É verdade que a situação ainda não se massificou, mas já há cidades e empresas que usam a representação de imagens tridimensionais como forma de comunicação. No Aeroporto do Dubai, por exemplo, os passageiros são recebidos por um holograma que dá as boas vindas e serve de posto de informações.
Mesmo com tanta imaginação, os argumentistas de Regresso ao Futuro não conseguiram prever o desaparecimento do fax em prol da internet – que, em 1989, ainda era uma miragem. Mas mais comum é a história seguir muito à frente do nosso tempo. O hidratador de comida, que transforma em segundos uma micro pizza em formato familiar, é um exemplo disso, tal como o vestuário que dispensa tamanhos padronizados, uma vez que tem ajuste automático ao corpo do consumidor. Sem esquecer, claro, o futurista carro voador.
Se Marty McFly chegasse ao 2015 de hoje ainda só iria encontrar o protótipo do automóvel que circula no ar (criado pela empresa norte-americana Terrafugia) ou o projecto da Google para o primeiro carro sem condutor. Mas já poderia usar roupa feita com tecidos inteligentes, que se lavam e secam sozinhos, comer uma pizza criada numa impressora 3D, encontrar uma morada ou localizar alguém através de um GPS e conduzir um drone… As possibilidades são infinitas. Afinal, já estamos todos a viver no futuro.
alexandra.ho@sol.pt