Numa carta de 15 de Março a que o Financial Times teve acesso, Tsipras "avisou Angela Merkel que seria 'impossível' para Atenas assegurar o serviço da dívida nas próximas semanas se a União Europeia (UE) não libertasse a curto prazo assistência financeira ao país", escreve o diário britânico.
"Sendo um dado que a Grécia não tem acesso aos mercados financeiros e tendo em vista os 'picos' esperados dos nossos reembolsos de dívida na primavera e no verão (…) é claro que as restrições particulares do BCE [Banco Central europeu] combinadas com atrasos de transferências tornam impossível para qualquer Governo assegurar o serviço da sua dívida", explica Tsipras na carta, que terá chegado às mãos da chanceler precisamente antes desta convidar o primeiro-ministro grego para se deslocar a Berlim.
O porta-voz do Governo grego, Gabriel Sakellaridis, confirmou o conteúdo da carta. "Não se trata de uma ameaça, mas da realidade", declarou à cadeia privada Mega TV, indicando que Alexis Tsipras tinha enviado uma carta similar ao presidente francês, François Hollande, e ao presidente da Comissão Europeia (CE), Jean-Claude Juncker.
"A carta não tem nem mais nem menos o que andamos a dizer desde a semana passada (…), que há pouca liquidez e que devem ser tomadas iniciativas políticas", explicou o porta-voz, adiantando que a carta esteve na origem da 'mini-cimeira' da UE em Bruxelas na semana passada.
Angela Merkel deve receber hoje à tarde Tsipras pela primeira vez em Berlim para tentar atenuar as vivas tensões entre uma Grécia sobre endividada, que quer acabar com a austeridade, e uma Alemanha defensora de uma linha dura entre os credores europeus.
Confrontada com prazos de reembolsos importantes e com cofres quase vazios, Atenas espera o desbloqueio pelo menos parcial da última tranche do empréstimo (7,2 mil milhões de euros) previsto no âmbito do prolongamento da ajuda financeira decidido a 20 de Fevereiro pelos europeus. Entretanto, esta transferência está suspensa à espera da adopção das reformas do Governo de esquerda radical de Alexis Tsipras.
No início de Fevereiro, o BCE acabou com um regime particular que tinha acordado com os bancos gregos, tendo fechado o acesso às operações regulares de refinanciamento destes. Para evitar asfixiar os bancos gregos, que enfrentam fugas massivas de capitais dos respectivos clientes, o BCE permite-lhes contrair empréstimos de urgência junto do Banco da Grécia, mas com um limite pré definido.
Lusa/SOL