Brincar ao teatro e aos cowboys

Brincar aos cowboys é uma das mais antigas ficções na vida de muita gente, seja no que diz respeito a jogos de infância ou a referências no cinema e televisão. É, também por isso, o ambiente ideal para o Teatro Experimental do Porto (TEP) ter em palco na altura em que se celebra o Dia…

Brincar ao teatro e aos cowboys

“Partimos de uma ideia de transformar o mundo, com este lado de guerrilha ou célula revolucionária, e isso evoluiu para três emigrantes portugueses a caminho do velho Oeste à procura de melhores condições de vida”, diz sobre Casa Vaga o encenador e actor Gonçalo Amorim, que é também director do TEP, a mais antiga companhia de teatro em actividade em Portugal.

O espectáculo, em cena no Rivoli até dia 29, partiu de um convite directo a Pedro Gil para encenar no TEP. O actor devolveu o repto, envolveu Gonçalo Amorim, e juntou ainda Raquel Castro à encenação e representação e Rui Pina Coelho à escrita. “Inspiradas pela leitura das primeiras utopias socialistas, as três personagens percebem que todas as injustiças estão retratadas no velho Oeste, ainda que seja um terreno fértil para utopias, e partem então para a criação da sua própria comunidade”.

Também em torno da ideia de ficção, mas neste caso em Lisboa e numa companhia que chega agora à segunda encenação, Os Possessos apresentam em cima do Dia Mundial do Teatro o espectáculo A Mentira, no Teatro da Politécnica até 18 de Abril. “Interessava-me trabalhar uma ficção muito intrincada em que a própria literatura é questionada, a partir da história de dois gémeos que primeiro estão juntos, depois separam-se e por fim percebe-se que um deles é inventado”, explica o encenador João Pedro Mamede.

A construção da história “parte da compreensão” de uma trilogia de Agota Kristof, à qual o grupo dedicou um clube de leitura. “São histórias que falam de sobrevivência em tempo de guerra, de separação e da persistência da memória. Aqui converte-se em dois planos: o próprio universo de Kristof e aquilo que acontece na sala com a obsessão de um encenador que procura o irmão”.

Pouco antes de apresentarem o seu primeiro grande espectáculo, Rapsódia Batman, Os Possessos enfrentaram a possibilidade de o mesmo não se concretizar. “Foi uma altura desanimada e o Jorge Silva Melo aconselhou-me estes livros. A leitura levantou-nos a todos”. O espectáculo retrata também esta busca e até a difícil demanda pelos livros em vários alfarrabistas.
 
Aproveitar o dia

Nem só de estreias vive o Dia Mundial do Teatro e vários palcos do país encontraram outras formas de o assinalar. O Teatro Municipal Maria Matos, em Lisboa, aproveitou a ocasião para passar a semana em festa com os Dias do Teatro: dá para assistir gratuitamente ao espectáculo Notallwhowonderarelost, a uma exposição, fazer visitas ou frequentar oficinas de teatro. No Teatro Nacional D. Maria II há uma homenagem a João Villaret e entradas gratuitas na peça Pirandello.

No Porto, o Teatro Nacional São João preparou a Semana Mundial do Teatro e abriu as portas para os bastidores com visitas guiadas conduzidas por vários nomes do teatro: hoje, na última visita, as honras da casa cabem ao próprio director artístico Nuno Carinhas.