Japan Airlines, 1982
O primeiro incidente causou a morte a 24 pessoas num voo doméstico da Japan Airlines que ligava Fukuoka a Tóquio, mas poupou o suicida. No momento da aterragem, o comandante Seiji Katagiri desviou deliberadamente o aparelho para o mar adjacente à pista, numa manobra dificultada pelo co-piloto, que terá chegado a entrar em confronto físico com Katagiri, de 35 anos. O piloto, que dois anos antes tinha sido diagnosticado com uma «doença psicossomática», foi detido e levado a julgamento, onde seria considerado inimputável devido à confirmação da existência de doenças de foro mental.
Royal Air Maroc, 1994
Mais de uma década depois, em 1994, aconteceu o acidente em que a hipótese de suicídio é menos discutida, tendo em conta a forma deliberada como Younes Khayati, de 32 anos, desligou o piloto automático logo após a descolagem de um voo da Royal Air Maroc. De seguida guiou o aparelho Aérospatiale 42 contra uma montanha de uma forma que deixou poucas dúvidas, desfeitas pelos relatos posteriores da imprensa local sobre os efeitos psicológicos da turbulenta vida romântica do comandante. As 44 pessoas que seguiam a bordo do avião que ligava Agadir a Casablanca tiveram morte imediata.
Silkair, 1997
Destino idêntico tiveram as 104 pessoas presentes no voo 185 da Silkair, que a 19 de Dezembro de 1997 ligava a capital indonésia de Jacarta a Singapura. A sustentar a tese de suicídio está o facto de o gravador de voz do cockpit ter sido desligado momentos antes de o Boeing 737 iniciar uma vertiginosa descida que num minuto o levou dos 35 mil pés de altitude (aproximadamente 10 quilómetros) até às águas do rio Musi, na região de Sumatra. Para investigadores norte-americanos, a descida abrupta aliada à acção de desligar o registo de vozes, que só poder ser voluntária, indica que o desastre era a intenção de Tsu Way Ming, de 44 anos. Mas a investigação oficial levada a cabo pelas autoridades indonésias foi dada como inconclusiva.
EgyptAir, 1999
Também disputada entre os EUA e outro país, neste caso o Egipto, é a hipótese de Gamal al-Batouti ter decidido voluntariamente despenhar o Boeing 767 que a 31 de Outubro de 1999 ligava Nova Iorque ao Cairo. O aparelho, que horas antes tinha completado sem problemas a primeira parte do voo (entre Los Angeles e Nova Iorque), desapareceu dos radares quando sobrevoava o Oceano Atlântico a uma altitude de 19 mil pés (5,7 quilómetros). Os registos encontrados nas caixas negras indicam que o avião perdeu mais de cinco quilómetros de altitude nos 30 segundos que antecederam o seu desaparecimento, levando os investigadores a concluir que se terá partido em vários pedaços, que viriam a ser encontrados nas águas do Atlântico. Sabe-se também que o piloto automático foi desligado antes da perda de altitude, ao mesmo tempo que se ouve o piloto a repetir a frase: «Confio em Deus». Dados suficientes para os norte-americanos concluírem que as 217 mortes a bordo se deram devido ao suicídio de al-Batouti, embora a conclusão tenha sido sempre rejeitada pelas autoridades egípcias.
LAM, 2013
Dezenas de acidentes depois, a intenção do piloto voltou a ser posta em causa no voo da Linhas Aéreas de Moçambique, que a 29 de Novembro de 2013 terminou em desastre no solo da Namíbia, matando 33 pessoas, incluindo sete portugueses. Um caso com vários pormenores semelhantes ao da Germanwings: depois de ficar a sós no cockpit, o piloto Hermínio dos Santos Fernandes não voltou a permitir a entrada do seu co-piloto; ao mesmo tempo, o piloto automático foi instruído a baixar drasticamente a altitude do voo enquanto a velocidade era colocada no máximo. Duas acções que os investigadores consideraram contraditórias para quem tinha a intenção de garantir a segurança do Embraer 190, que tinha apenas um ano de vida. Posteriormente, foi divulgada a informação de que o piloto enfrentava um processo de divórcio enquanto lidava com a dor provocada pelo suicídio do filho.
nuno.e.lima@sol.pt