2. O contraste com Vítor Gaspar, aliás, favorecia a actual Ministra das Finanças: Gaspar era o anti-político, o funcionário administrativo típico de Bruxelas – seco, cortante, puramente académico, teórico, incapaz de compreender os mecanismos da democracia para além da racionalidade dos números ditados pelos modelos matemáticos que estudara na Universidade. Maria Luís Albuquerque é o oposto: pese embora revele uma enorme competência económico-financeira, a actual Ministra das Finanças pensa política de forma inteligente e hábil, domina o discurso próprio da política, seus termos e ritmos, é muito telegénica, é clara e frontal (características que os portugueses tanto apreciam), para além de ter uma postura e uma voz, como referiu António Lobo Xavier, sedutoras, que criam simpatia imediata com a Ministra. É uma personagem política desarmante, mesmo para os seus adversários políticos: basta pensar em Jorge Coelho, socialista fanático, que se revelou admirador da Ministra das Finanças no seu programa semanal de debate. Tem um futuro promissor à sua frente e nem mesmo as comparações (no mínimo) ridículas, traçadas por Pacheco Pereira, no mesmo programa semanal, entre Maria Albuquerque e José Sócrates podem desmentir tal constatação elementar.
3. Dito isto, atentemos na actividade política intensa de Maria Luís Albuquerque nos últimos dias. Primeiro, urgiu os jovens portugueses a se “multiplicarem”; depois, afirmou que conseguiu com que Portugal tenha os seus “cofres cheios”; e, finalmente, vestindo a pele de “político profissional, inaugurou a nova plataforma de uma empresa de aviação low cost no Aeroporto do Porto.
4. Quanto ao apelo de Maria Luís Albuquerque para os jovens corporizarem o tão desejado acréscimo da taxa de natalidade, concordamos inteiramente. Todavia, este tipo de apelo à “multiplicação da espécie” panfletário tem o efeito inverso ao pretendido: reduz uma questão essencialíssima para o futuro da Nação portuguesa a uma ironia fina ou piada em tom provocatório. Soa a desresponsabilização do Governo para com um imperativo de interesse público que requer acções governamentais activas: a promoção da natalidade impõe prestações activas do Estado, quer de cariz legislativo, quer de cariz administrativo. Não é, pois, suficiente a exortação para os jovens se multiplicarem. Por muito respeito que tenhamos por Maria Luís Albuquerque, a Ministra não é Deus (ou uma Deusa) para exortar os seus filhos à multiplicação. Portanto, Senhora Ministra, levemos a promoção da natalidade a sério!
5. Já no que respeita ao episódio dos cofres cheios e à versão “tio patinhas” (expressão usada por um militante, ao que parece, do PSD do Bombarral ) da Ministra Finanças., trata-se de um episódio que só é relevante num ambiente político – como o português – em que impera a hipocrisia política e um falso moralismo bacoco. A oposição – porque nada tem para dizer; oscila entre a repetição do mesma cassete de sempre, como o PCP e o vazio absoluto que é o PS – aproveitou esta declaração da Ministra para criticar a insensibilidade do Governo e a sua vontade endémica para regressar aos tempos do salazarismo. Se há dinheiro nos cofres, então há que distribuí-lo pelos portugueses – referem os iluminados da oposição de esquerda.
6. Que o PCP assuma esta posição, naturalíssimo: os comunistas são um partido de permanente contestação, que mantêm embalsamado o discurso estalinista, enquadrando as formas de contestação popular Que o Bloco de Esquerda tenha este discurso, é a ordem da “natureza das coisas” – o Bloco de Esquerda é insignificante, só serve mesmo para criar ruído e confusão contra a actividade governamental. Contra a actividade de qualquer Governo – do PSD, do CDS ou do PS, ou qualquer outro partido. Não se pode exigir mais ao Bloco de Esquerda: quem dá o que tem ou o que pode, a mais não é obrigado.
7. Agora que António Costa vá na onda do Bloco de Esquerda e peça à Ministra que distribua o que tem nos cofres pelos reformados – é inadmissível. Já não é populismo: já estamos no domínio da irresponsabilidade total. Assim se percebe que Portugal tenha estado à beira da bancarrota – António Costa é um discípulo político de José Sócrates. É um seguidor fiel da lógica socrática de que as dívidas não são para pagar: são para gerir! De gestão em gestão da dívida – até à bancarrota final! Eis a fórmula da governação socialista!
8. Muito gostaríamos que houvesse alguém com coragem que fizesse as seguintes interrogações ao líder do PS: 1) Acredita mesmo que o Estado não deve ter reservas nos seus cofres: deve andar a distribuir tudo o que tem? Um Estado é sustentável com uma gestão errática destas; 2) Se for Governo, António Costa compromete-se perante os portugueses a proceder, como primeira decisão oficial, à distribuição pelos portugueses do que encontrar nos cofres?
9. Nós sabemos que António Costa deixaria –se algum dia chegasse a Primeiro-Minsitro, algo que nunca irá acontecer a bem de Portugal – os cofres tal como deixados por Passos Coelho, prosseguindo a política do actual Governo, com uma diferença: seria mais incompetente, pois teria de fazer uns certos favores ou cedências aos seus camaradas do PS. Não tenhamos dúvidas: António Costa não representa a mudança; não representa a novidade; não representa a esperança – Costa representa, apenas e só, o socratismo reciclado parcialmente. Mas com os Lellos e os Santos Silva de sempre.
10. Evidentemente, que a Ministra, ao utilizar a expressão “cofres cheios”, quis, de forma impressiva, marcar a diferença para com a governação socialista: o PS deixou Portugal na bancarrota; o PSD deixa o país com condições, de sustentabilidade financeira, para encetar um novo ciclo de crescimento económico e modernização do seu tecido empresarial e social. Eis uma pequena, conquanto cheia de significado político, diferença.