Morreu Tomas Transtromer

O poeta sueco Tomas Transtromer, distinguido com o Prémio Nobel da Literatura em 2011, e que escreveu sobre Lisboa e Funchal, morreu aos 83 anos, disse hoje o seu editor.

Morreu Tomas Transtromer

Tomas Transtromer sofreu, em 1990, um acidente vascular cerebral, que afectou a sua capacidade de falar e escrever.

Em 2011, quando foi distinguido com o Nobel, o poeta Casimiro de Brito afirmou à Lusa que Transtromer era "o maior ou um dos maiores poetas do mundo".

Em Portugal, o poeta tem publicada a antologia "50 Poemas" (2011), numa tradução de Alexandre Pastor, da editora Relógio d'Água, e está incluído na seleta "21 poetas suecos" (1981), organizada por Vasco Graça Moura e Ana Harthely, com a chancela editorial da Vega.

Nesta obra surge o poema "Lisboa", em que o poeta destaca elementos típicos das zonas históricas da capital.

"No bairro de Alfama os eléctricos amarelos cantavam nas calçadas íngremes/Havia lá duas cadeias. Uma era para ladrões/Acenavam através das grades/Gritavam que lhes tirassem o retrato", escreveu.

"Roupa branca no azul. Os muros quentes/As moscas liam cartas microscópicas/Seis anos mais tarde perguntei a uma senhora de Lisboa/ 'Será verdade ou só um sonho meu?'", finaliza o poeta sobre a cidade junto ao Tejo.

Em 2012 foi publicado o livro "As minhas lembranças observam-me, seguido de Primeiros Poemas", numa tradução de Ana Diniz (prosa) e Alexandre Pastor (poemas), com um posfácio de Pedro Mexia, numa edição Sextante. Esta obra é recomendada pelo Plano Nacional de Leitura.

Psicólogo de formação, Transtroemer sugere que a análise poética da natureza permite mergulhar nas profundezas da identidade humana e da sua dimensão espiritual.

"A existência de um ser humano não acaba onde os seus dedos terminam", declarou um crítico sueco sobre alguns poemas de Transtroemer, que classificou como "orações laicas".

O prestígio de Transtroemer no universo anglófono deve-se sobretudo à sua amizade com o poeta norte-americano Robert Bly, que traduziu para inglês uma boa parte da sua obra — que está traduzida em 60 línguas.

O seu estilo foi descrito pela revista Publishers Weekly como "místico, versátil e triste", destoando da vida do poeta activamente empenhado numa luta por um mundo melhor, e não apenas através de poemas.

Nascido a 15 de Abril de 1931 em Estocolmo, Tomas Transtromer foi educado pela mãe, após a morte precoce do pai. Depois de se licenciar em Psicologia, em 1956, foi contratado pelo Instituto Psicotécnico da Universidade de Estocolmo e, a partir de 1960, passou a ocupar-se de jovens delinquentes num instituto especializado, trabalhando com deficientes, presos e toxicodependentes, enquanto edificava a sua obra poética.

Em 1954, aos 23 anos, ainda estudante de Psicologia, publicou o seu primeiro livro, "17 Poemas", na maior editora sueca, Bonniers, à qual continuou ligado ao longo da sua carreira e cujo editor considera a poesia de Transtroemer "uma análise permanente do enigma da identidade individual perante a diversidade labiríntica do mundo".

Em 1966, recebeu o prestigiado Prémio Bellman, ao qual se seguiram muitas outras distinções, entre as quais o Prémio Petrarca (Alemanha, 1981) e o Neustadt International Prize (Estados Unidos, 1990).

Em 1997, a cidade operária de Vaesteraas, onde viveu durante 30 anos (até aos anos 1990, quando regressou a Estocolmo), criou o Prémio Transtroemer.

Em 2004 publicou "O Grande Enigma" e, segundo a sua mulher, a música passou a ocupar grande parte da sua vida – tocava todos os dias ao piano (com a mão esquerda, porque a direita ficara paralisada em consequência do AVC) e passava as manhãs a ouvir música clássica.

Lusa/SOL