Cumprem-se este ano duas décadas da morte do poeta açoriano Emanuel Félix, subtil virtuoso e ‘faminto nostálgico do inacessível’. A sua poesia, recolhida num volume impressionante, é perpassada por um elemento de calma e fidelidade, como se pretendesse resguardar o tempo.
Poesia reúne os dois brevíssimos títulos publicados com um intervalo de 10 anos pela figura que entre nós exprimiu de forma mais sensível e inspirada, através de uma magnífica obra crítica e ensaística, o grau de impiedosa clareza que faz do poeta um ser tão odiado pelos farsantes que a cada momento dominam a cultura.
Expoente da geração de poetas brasileiros surgidos nos anos 1990, mantém uma relação privilegiada com o nosso país, e depois de alguns livros seus terem sido editados primeiro entre nós, chega agora em exclusivo uma antologia dos seus «poemas de amores».
Elevado a ‘consigliere’ no opressivo enredo cultural português, Mexia diz que já não se vê a romper noutra direcção, buscando novos caminhos para os seus versos. De ora em diante, reservar-se-á ao papel de antologiador sucessivo da obra, retocando o retábulo que já conhecemos.
A partir dos instrumentos de análise de Jean Baudrillard, que apontou para uma tentação de submeter o século XX a um processo de revisionismo e desinformação imparável, procuramos compreender como as comemorações dos 50 anos da revolução dos cravos procuram esvaziá-la de sentido, e como apenas exprimem uma forma de arrependimento.
A morte de Júdice a 17 de Março por agora só gerou o palavreado encomiástico próprio das brochuras mortuárias, mas seria importante recuar meio século e ter em conta como a sua estreia trouxe um ímpeto de renovação da poesia que pela última vez correspondeu a essa “primavera magnífica” que se espera da juventude.
A mais recente recolha de poemas de Quintais permite-nos traçar um retrato dos modos de abdicação e sujeição a que se abandonou muita da actual poesia portuguesa, julgando sinalizar o fim do mundo, quando era o mundo, na verdade, que parecia desertar das suas representações.
O poeta algarvio morreu este domingo, aos 74 anos, vítima de cancro. Depois de uma fulgurante estreia, e de ter sido central numa transição decisiva na poesia portuguesa, que soube arejar através da respiração da prosa, Júdice acabou escravizado enquanto escultor da sua própria estátua.
Poeta, ensaísta e ficcionista, Nuno Júdice foi, até 2015, professor na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa.
A ausência da Cultura nos programas eleitorais gerou alguma perplexidade e denúncias entre alguns dos nossos agentes do sector, mas enquanto estes continuam a exigir mais atenção e uma fatia maior do bolo orçamental, escusam-se por todos os meios a confrontar o vazio que garante a esterilidade das actuais “políticas culturais”.
O livro de estreia de um poeta nascido em Odessa, e que juntamente com a família obteve asilo nos EUA, leva-nos de volta à ferida mortal do século passado, e à lúcida e dolorosa memória que entre si traficam aqueles que procuram restituir à música a palavra num mundo de onde os sinos foram arrancados.
Um pequeno selo independente (Não Edições) acaba de publicar uma dessas discretas obras-primas da poesia contemporânea europeia, um livro seminal que se impôs como o mais fulgurante antecedente dos discursos que hoje procuram revigorar a criação literária deixando para trás as limitações e preconceitos da perpectiva antropocêntrica.
Na sua 37.ª edição, o Prémio Pessoa quis celebrar o ecumenismo diluente de uma figura que tem produzido uma marca de espiritualidade consoladora que esvazia a fé de toda a exigência transformadora e a cultura das suas tensões mais vigorosas.
O poeta norte-americano Max Ritvo morreu aos 25 anos de uma forma rara de cancro ósseo que lhe fora diagnosticado uma década antes. Agarrou-se à poesia, aos amigos, aos professores, e também às memórias e ao passado, deixando um testamento tenaz e sumptuoso, celebrando o tempo que lhe foi dado, entretecendo um eco vivo.
Depois de uma década sem publicar, Paulo Teixeira parecia ter-se remetido ao silêncio. E se a sua postura foi sempre imensamente discreta, também é certo que não se podia passar ao lado do seu percurso na hora de fazer um balanço sobre a poesia contemporânea portuguesa.