A partir dos instrumentos de análise de Jean Baudrillard, que apontou para uma tentação de submeter o século XX a um processo de revisionismo e desinformação imparável, procuramos compreender como as comemorações dos 50 anos da revolução dos cravos procuram esvaziá-la de sentido, e como apenas exprimem uma forma de arrependimento.
A morte de Júdice a 17 de Março por agora só gerou o palavreado encomiástico próprio das brochuras mortuárias, mas seria importante recuar meio século e ter em conta como a sua estreia trouxe um ímpeto de renovação da poesia que pela última vez correspondeu a essa “primavera magnífica” que se espera da juventude.
A mais recente recolha de poemas de Quintais permite-nos traçar um retrato dos modos de abdicação e sujeição a que se abandonou muita da actual poesia portuguesa, julgando sinalizar o fim do mundo, quando era o mundo, na verdade, que parecia desertar das suas representações.
O poeta algarvio morreu este domingo, aos 74 anos, vítima de cancro. Depois de uma fulgurante estreia, e de ter sido central numa transição decisiva na poesia portuguesa, que soube arejar através da respiração da prosa, Júdice acabou escravizado enquanto escultor da sua própria estátua.
Poeta, ensaísta e ficcionista, Nuno Júdice foi, até 2015, professor na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa.
A ausência da Cultura nos programas eleitorais gerou alguma perplexidade e denúncias entre alguns dos nossos agentes do sector, mas enquanto estes continuam a exigir mais atenção e uma fatia maior do bolo orçamental, escusam-se por todos os meios a confrontar o vazio que garante a esterilidade das actuais “políticas culturais”.
O livro de estreia de um poeta nascido em Odessa, e que juntamente com a família obteve asilo nos EUA, leva-nos de volta à ferida mortal do século passado, e à lúcida e dolorosa memória que entre si traficam aqueles que procuram restituir à música a palavra num mundo de onde os sinos foram arrancados.
Um pequeno selo independente (Não Edições) acaba de publicar uma dessas discretas obras-primas da poesia contemporânea europeia, um livro seminal que se impôs como o mais fulgurante antecedente dos discursos que hoje procuram revigorar a criação literária deixando para trás as limitações e preconceitos da perpectiva antropocêntrica.
Na sua 37.ª edição, o Prémio Pessoa quis celebrar o ecumenismo diluente de uma figura que tem produzido uma marca de espiritualidade consoladora que esvazia a fé de toda a exigência transformadora e a cultura das suas tensões mais vigorosas.
O poeta norte-americano Max Ritvo morreu aos 25 anos de uma forma rara de cancro ósseo que lhe fora diagnosticado uma década antes. Agarrou-se à poesia, aos amigos, aos professores, e também às memórias e ao passado, deixando um testamento tenaz e sumptuoso, celebrando o tempo que lhe foi dado, entretecendo um eco vivo.
Depois de uma década sem publicar, Paulo Teixeira parecia ter-se remetido ao silêncio. E se a sua postura foi sempre imensamente discreta, também é certo que não se podia passar ao lado do seu percurso na hora de fazer um balanço sobre a poesia contemporânea portuguesa.
Harjo foi a primeira nativo-americana distinguida como poeta laureada dos EUA, tendo servido três mandatos, e embora a sua poesia tenha recaído num certo panfletarismo idealista, em tempos a sua proposta foi tão ousada quanto indigesta, nadando para trás no tempo, convocando fantasmas, apurando ecos que chegam até ao osso
A poeta norte-americana, galardoada com o Nobel em 2020, morreu de cancro aos 80 anos, deixando uma obra que podia ser desapiedada e cruel, mas capaz também de transformar o pensamento em prece, e de louvar a existência sem a reduzir às mais banais aspirações de conforto e optimismo
O poema De rerum natura enfatiza a materialidade do mundo, a mortalidade da alma e a rejeição da religião e da superstição
No centenário do nascimento da autora, o Nascer do SOL publica nove poemas inéditos que constituem uma espécie de diário íntimo.
Unanimemente louvado como um livro central numa suposta renovação do campo da poesia portuguesa mais recente, “Mulher ao Mar” regressa, e o corpo lançado às vagas é já uma embarcação tripulada por uma série de vozes, sobretudo femininas (as “corsárias”), produzindo muita vozearia no convés, mas depois fica naquele tom amontoado, pairando no ar sem chegar…