Aconteceu num passeio normal de BTT, um dos muitos em que Ricardo Araújo participa, organizados pela Associação de Ciclismo do Minho. Este 'betetista' (como se autodesignam os ciclistas de todo-o-terreno) tornou-se membro da associação há cerca de dois anos, mas já faz BTT há cerca de cinco. Naquele dia, escapou “por pura sorte” a um cabo de aço, colocado no caminho de um monte em Airão (Santa Maria): “Estava suspenso a um metro e meio do chão, o que, para quem vai em velocidade, é invisível”.
A partir de então, tanto o ciclista de Vila Nova de Famalicão como os companheiros têm bastante mais cuidado nas suas aventuras de bicicleta: “Vai sempre alguém à frente para ver se não há nenhum perigo”.
E nem sempre os cabos são de aço. Muitas vezes, os betetistas também encontram cabos de arame, colocados de propósito para magoar quem se aventura pelos montes. E isto não se passa exclusivamente em caminhos privados: Rui Pereira, por exemplo, encontrou armadilhas num “acesso aos montes, público”. “Arames, cordas, encontramos de tudo. Agora, tornou-se 'moda' deixar pregos espetados num bocado de madeira para fazer os ciclistas cair”, revela o ciclista, contando que dois dos seus colegas caíram mesmo.
Apesar destas novas ameaças que colocam em risco a vida dos ciclistas, até agora nem a GNR nem a PSP receberam quaisquer queixas. “Avisamos a associação e divulgamos no Facebook”, conta Rui Pereira.
“Este um tema que muito tem vindo a preocupar os betetistas de Portugal e Espanha”, assegura José Guerreiro, da Associação de BTT do Baixo Guadiana. “Na nossa zona não temos conhecimento de armadilhas colocadas de propósito. Pode haver vedações para que o gado não ultrapasse as suas propriedades, mas essas estão assinaladas normalmente com uma fita ou pedaço de pano vermelho”, congratula-se.
No Minho é diferente: “Foram-nos reportadas várias situações. A última em Fermentões, Guimarães”, conta José Ribeiro, da associação de ciclismo daquela região. “Numa primeira fase, quando tivemos conhecimento das primeiras situações, lançamos um alerta juntos dos praticantes e dos clubes, recomendando atenção redobrada na utilização de trilhos para a prática de ciclismo. Pedimos que situações que venham a ser detectadas sejam comunicadas às autoridades competentes e, se possível, também à Associação de Ciclismo do Minho”, apela. Mas insiste: “Verdadeiramente importante é que comuniquem os casos à PSP e à GNR”.
O dirigente relembra ainda aos praticantes “a necessidade de respeitarem o código de conduta, de respeito e protecção dos recursos naturais, bem como da propriedade dos terrenos”.
Casos sérios em Espanha
Apesar dos casos relatados, José Ribeiro manifesta “sérias dúvidas” de que as armadilhas sejam colocadas por causa dos betetistas: “Acho que são mais usadas para impedir a passagem e a degradação de terrenos e para conter alguma perturbação do sossego. Mas os betetistas são, por princípio e esmagadoramente, pessoas com consciência ambiental elevada”. Outra hipótese, admite, é “as armadilhas serem colocadas por alguém com instinto de malvadez”.
Este é, de qualquer modo, um novo perigo para os betetistas. Em Espanha, foi recentemente divulgado o caso de um ciclista que ficou desfigurado por um arame de espinhos em que embateu. Outro homem ficou paraplégico ao embater numa pedra colocada de propósito num caminho.