Como explicar a vitória de Miguel Albuquerque? São várias os factores explicativos da vitória social-democrata: destacamos quatro. A saber:
i) O perfil de Miguel Albuquerque. O novo líder madeirense veio provar que a tese da inevitabilidade e do “fatalismo histórico” segundo o qual o povo da Madeira não conseguiria viver e conviver num registo democrático diferente do de Alberto João Jardim. Entendemos ser de muito mau tom ter a pretensão de dar lições (ou sermões!) de democracia a comunidades locais ou regionais – os portugueses de Lisboa não são mais especiais do que os portugueses dos Açores ou da Madeira.
Todos somos portugueses, com as nossas (muitíssimas) virtudes e com os nossos (alguns) defeitos. O povo madeirense, ao longo das últimas décadas, escolheu, de forma responsável e democrática (tal como os restantes portugueses escolheram os seus edis) o projecto político de Alberto João Jardim. E é irrefutável que Alberto João contribuiu muito para o desenvolvimento económico e sobretudo social da região autónoma da Madeira: só por facciosismo político ou cegueira político-partidária se poderão os muitos méritos do trabalho desenvolvido por Alberto João Jardim.
Dito isto, confessamos que achamos Alberto João Jardim um personagem político muito simpático, muito divertido, um óptimo companheiro para ir beber umas ponchas – mas apenas isso. Quer dizer, o definir ou sequer equacionar uma eventual candidatura de Aberto João Jardim a um qualquer órgão político nacional, só pode ser uma piada para divertir os portugueses nesta época de Páscoa (no primeiro ano sem a presença da troika!). Alberto João tem características que não se adequam às exigências da política moderada, racional, necessariamente convivente com outros poderes informais determinantes, como é o caso da comunicação social e da opinião publicada difusa com a erupção dos fenómenos das redes sociais.
Quem não respeita o espaço próprio e livre da comunicação social e o exercício pleno da razão crítica por parte dos eleitores no escrutínio dos governantes – não reúne condições para hoje exercer funções públicas. O tempo de Alberto João Jardim, na política, já passou. Alberto João conseguiu bater, em longevidade, Hugo Chavez, Fidel Castro, Kadhafi – apenas para citar alguns (ilustrativos) exemplos.
Miguel Albuquerque, em termos de perfil, é o oposto de Jardim: racional, moderado, moderno, aberto a novas correntes de opinião e a novas metodologias políticas e decisórias, cosmopolita, urbano por natureza mas conhecedor das realidades rurais (como demonstrou na presidência da Câmara Municipal do Funchal), muito inteligente e com uma enorme sensibilidade prática. Para alem de dominar os assuntos económicos e financeiros, valências imprescindíveis para uma região que se confronta com um plano de assistência económico-financeira e que terá de reduzir drasticamente a sua dívida, sem comprometer o seu desenvolvimento económico e a coesão do tecido social. Miguel Albuquerque é o homem certo no momento certo;
Miguel Albuquerque demonstrou uma extraordinária habilidade política. Por um lado, Albuquerque revelou-se capaz de capitalizar os méritos e as virtudes da governação de Alberto João Jardim: não negou que o trabalho dos governos do PSD-Madeira promoveu uma maior justiça social e desenvolvimento económico; transformou a Madeira, com infra-estruturas imprescindíveis, como, por exemplo, hospitais e centros de saúde e escolas dos diferentes níveis de ensino; conseguiu alcançar importantes avanções na definição constitucional dos poderes autonómicos regionais. No entanto, ao mesmo tempo, Albuquerque compreendeu que os madeirenses estavam fartos do estilo e da forma particular de Alberto João Jardim fazer política: e, neste aspecto, Albuquerque encarnou o anti-Jardim – prometeu ser conciliador, aproximar o poder das pesssoas, fazer uma gestão rigorosa dos dinheiros públicos, racionalizar o discurso e a acção política, repor o respeito institucional e a lisura nos órgãos de soberania, com destaque para a Assembleia Legislativa Regional.
Ou seja: Miguel Albuquerque, ao mesmo tempo, representou o Jardinismo e o Anti-jardinismo;
Miguel Albuquerque secou a oposição. Ligado ao ponto anterior, Miguel Albuquerque, ao corporizar simultaneamente o jardinismo e o anti-jardinismo, representou para o eleitorado a figura do sucessor natural de Alberto João Jardim –e, ao mesmo tempo, o principal e mais eficaz rosto da oposição. O que significa que Albuquerque foi um verdadeiro eucalipto que secou a oposição, pelo menos, a oposição mais moderada.
Daí o péssimo resultado do PS e do seu (frouxo, conquanto muito simpático) líder Vítor Freitas – e o resultado menos bom do CDS/PP. Albuquerque, para os madeirenses que não gostam nada de Jardim, foi o rosto da coragem e da ousadia de romper com Alberto João, desafiando-o no Congresso do PSD, numa altura em que era muito difícil fazê-lo. Portanto, para este sector da opinião pública e do eleitorado madeirense, Albuquerque foi a oposição mais eficaz a Jardim. A maioria absoluta de Albuquerque é o resultado do somatório de PSD mais PS e sectores da oposição mais moderada, que viram nele, não a evolução na continuidade, mas a continuidade na evolução;
Por último, Miguel Albuquerque representa um apaziguamento não discurso quase belicista do Governo Regional contra Lisboa. Miguel Albuquerque irá defender os interesses da Madeira, mas sem ameaças espúrias (e até ridículas) contra o “continente”. A forma certa de promover a autonomia, sem prejudicar a unidade nacional, faz-se através do diálogo e da concertação: as ameaças de independência da Madeira já não correspondem aos anseios dos madeirenses. É chão que já deu uvas (se é que alguma vez deu…). A vitória de Albuquerque é, neste sentido, uma excelente notícia para Portugal.
E será que a vitória de Miguel Albuquerque terá efeitos a nível nacional? É o que iremos ver no nosso próximo texto.
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