É por essa razão que os países mais chuvosos e mais tristonhos são também os mais ricos, mas ao mesmo tempo os que têm maior taxa de suicídio, e os mais solarengos mais sorridentes mas também mais pobres, porque as pessoas têm mais que fazer do que dedicarem-se apenas ao trabalho. Foi isso que África me deu, não a felicidade mas o dar valor a coisas menos materiais, menos fúteis. Há quem diga que o maior bem que alguém pode ter é a saúde, eu ponho sempre ao lado dessa a felicidade e isso veio-me à memória ao passarmos pelo dia que a comemora. De que vale vivermos até aos 100 infelizes? De que vale sermos donos do mundo e termos a riqueza no bolso sem a alegria na alma?
Na noite isso transparece de uma forma evidente e é fácil de analisar quem nos rodeia prestando um pouco de atenção. As atitudes e o respeito com que tratamos os barmen, os copeiros, os porteiros ou mesmo os nossos amigos e os que nem conhecemos, a miúda que queremos impressionar mas sobretudo a que não queremos de todo.
Acho que a determinada altura da nossa existência é sobretudo isso que nos leva para cima ou nos empurra para baixo, sobretudo se estamos zangados com o mundo e revoltados com a falta de sorte. Tem gente que só de trocarmos duas ou três palavras nos tornam o dia melhor, têm o coração cheio e a mente livre, são de uma raça genuína e de um formato que não se encaixa em algemas ou prisões.
Por vezes, quando saio com os meus amigos, apercebemo-nos de quem tem tudo mas nada tem, que usam o poder da beleza ou do dinheiro para castigar os outros. Eles não têm culpa, bem sei, são da chuva, não do sol. Tentamos sempre afastarmo-nos desses. Quem é feliz tem menos vontade de fazer mal e mais de praticar essa definição de prazer até. Porque no fim do dia é isso também que nos aproxima do sono mais tranquilo e descansado.
A propósito do dia que passou, acho que devíamos praticar felicidade e não só matemática, é ela por vezes a razão de acções que alteram a vida de muitos. Como disse no princípio, quem o pratica tem menos tempo para infernizar a vida dos outros e para aturar quem só pensa em ter um carro topo de gama ou uma casa melhor que a do vizinho. Conheço uma pessoa que por muitos problemas que esteja a passar (e está de facto) nunca deixa que essa razão lhe modifique as atitudes, o respeito e a alegria com que trata tudo e todos e que por si só enche uma casa, uma discoteca, uma noite. E eu, embora feliz, invejo-o todos os dias, mas é uma inveja boa porque a felicidade impele-nos a querer o melhor para os nossos!