O Le Figaro noticia a morte de “um asceta apaixonado”. “Não se podia ficar insensível ao seu encanto de cavalheiro português refinado e bem-humorado”, escreve Marie-Nöelle Tranchant sobre o momento em que conheceu o cineasta, era este quase octogenário. Ainda em França, onde a sua obra foi reconhecida e apoiada, o Le Monde publica um sentido texto sobre “o decano que o cinema perde”. “Sinceramente, não se acredita. Leu bem: não se acredita na morte de Manoel de Oliveira”, um “daqueles homens de excepção cuja vitalidade parecia atirar a própria morte para a sepultura”. Nesse mesmo tom escreve o espanhol El País: “Com 106 anos e um ritmo de um filme por ano parecia que Manoel de Oliveira tinha superado a morte”, numa necrológica intitulada “O mítico cineasta com 90 anos de carreira”. Num outro texto, do crítico Esteve Riambau, mais do que a longevidade é realçada a qualidade. “Fazia bons filmes. Filmes de festivais, não de grande público, mas bons filmes. Filmes profundamente portugueses e também inegavelmente universais”.
No país vizinho, o ABC destaca o facto de ter sido piloto de automóveis e de ter estado sem filmar “muitos anos devido à falta de financiamento e à censura política do ditador Salazar”.
Do outro lado do Atlântico, o Estado de São Paulo relembra a relação de Oliveira com a escritora Agustina Bessa-Luís e destaca o seu lado galã. “Foi também um boémio e um belo homem, quando jovem. Não resistia a um rabo de saia e ganhou fama de sedutor, o que permaneceu – até o fim da vida, nunca deixou de ser galante com as mulheres. Elas o amavam, as suas estrelas – Leonor Silveira, Catherine Deneuve, Chiara Mastroianni.
No outro jornal de referência de São Paulo, a Folha, o português João Pereira Coutinho escreve que, para Oliveira, o cinema era a “síntese do teatro e da literatura”.
Em Inglaterra, o obituário do Guardian releva Oliveira como um das “mais originais e profundos artistas” e que mesmo em idade avançada deixou transparecer “qualquer deterioração mental ou física”.