Já adolescente, tive a sorte de ver Douro, Faina Fluvial no estúdio do próprio Oliveira, numa fábrica de passamanarias que era então da família do realizador. Só mais tarde vi o Aniki Bóbó na televisão (RTP).
Nessa época M. Oliveira só raramente conseguia fazer filmes. Um deles, um belo documentário sobre o Porto (O Pintor e a Cidade) ainda o vi no cinema S. João. Mais tarde, em 1972, encantou-me o Acto da Primavera, uma representação rural da Paixão de Cristo, que vi em Lisboa.
Não sendo um homem de esquerda, M. Oliveira não era um apoiante do regime, pelo que não lhe era fácil filmar. No início de 1964 Oliveira foi preso pela PIDE, em cujas prisões passou dez dias, o que surpreendeu e escandalizou toda a gente. Eu tinha casado há poucos meses e, quando a PIDE o libertou, a minha mulher e eu convidámos para jantar em nossa casa o casal Oliveira, para lhe mostrar a nossa solidariedade. A simpatia e simplicidade do casal puseram-nos à vontade, apesar da diferença de idades e de estatuto.