Foi precisamente a mudança para uma nova moradia que os fez despertar para este assunto. “Acordávamos cansados, entre as duas e as quatro da manhã, tínhamos dores de cabeça que depois passavam durante o dia… Hoje sabemos que tínhamos todos os sintomas típicos de quem vive numa casa doente”. O estudo de um especialista levou-os a perceber que reuniam uma série de características e condições propícias ao mal-estar: viver perto de antenas de telemóveis, carregar o telemóvel junto à cabeceira da cama, ter equipamentos electrónicos no quarto ou dormir numa cama com uma estrutura metálica e com molas são apenas algumas delas. “Segundo a Organização Mundial de Saúde, 30% das habitações e 60% das construções empresariais têm potencial para causar doenças. Das mais graves como cancros, até outras menos graves mas crónicas, como fadiga e dores de cabeça”, explica Miguel.
Se neste momento está preocupado porque a sua casa reúne algumas destas características, não precisa entrar em pânico. E não precisa de pensar em trabalhos de demolição para já. Pequenas alterações podem fazer toda a diferença. “Às vezes passa por mudar uma cama de sítio, ou simplesmente mudar o tipo de colchão. Os materiais mais naturais são os melhores. Também as plantas naturais são um excelente regulador da qualidade do ar, em humidade e temperatura, são purificadoras, e uma excelente forma de medir a habitabilidade do espaço”, realça Marcelina, que fornece mais duas pistas. Os locais que o seu cão ou gato procuram são os mais 'saudáveis' para estar, porque os animais (tal como as crianças) têm o instinto mais desenvolvido. E antes de se deitar deve desligar todos os aparelhos da tomada e dormir no escuro total é a melhor opção.
Uma arquitectura mais próxima da natureza
O trabalho da dupla baseia-se no conceito de Arquitectura Integrativa, que associa a arquitectura contemporânea (ensinada nas Universidades) com filosofias e artes ancestrais nascidas da observação, estudo e compreensão da Natureza transportados para a actualidade. Princípios como o Feng Shui, Geobiologia, Biohabitabilidade, Sustentabilidade e Biogeometria (Geometria Sagrada) estão na base desta filosofia de vida. A natureza é o modelo que seguem e tentam imitar, para proporcionarem aos clientes o maior bem-estar possível. “Se pensarmos na natureza como um laboratório que se foi aperfeiçoando ao longo dos tempos e se formos aplicando esse conhecimento a nosso favor, por nos ser geneticamente natural, vamos sentir-nos melhor. Temos um lado muito instintivo, que os tempos actuais fazem com que esteja esmorecido”, defende a arquitecta.
A poluição química, a contaminação eletromagnética, o sedentarismo e a tendência cada vez maior de passar o tempo em espaços fechados são alguns dos fenómenos que pautam os tempos modernos, e para as quais o nosso organismo não foi concebido. “A procura do regresso às origens é uma tendência cada vez mais presente quer na alimentação, quer na procura do exercício físico ou ainda no contacto com a natureza. Só falta mesmo pensarmos na nossa casa nos mesmos moldes, como já acontece em outros países como a Brasil, França ou Alemanha, onde já existe esta consciência, pelo menos, desde os anos 1930”, afirma Miguel Fernandes.
A geobiologia, por exemplo, que permite estudar a influência das radiações sobre os seres vivos, foi fundada na década de 1950 pelo médico alemão Ernst Hartmann através de vários estudos científicos. “Neles descobriu que 60 a 70% das nossas doenças têm uma relação directa ou indirecta com os espaços onde estamos inseridos: de trabalho ou habitação. Foi o grande impulsionador da geobiologia e mais tarde teve outros seguidores. Como nós, que estamos a tentar que esta corrente faça parte da cultura portuguesa”, continua Miguel.
A Habitat Saudável já tem clientes por todo o país. Aos poucos os seus fundadores, encarados como 'médicos das casas', têm visto aumentar a procura, graças ao passa-palavra e à divulgação do seu trabalho por diversos meios. Do diagnóstico à solução há diversas etapas. Numa primeira fase está disponível um questionário padrão online, para avaliar a relação das pessoas com o espaço e, numa segunda, fazem uma visita ao local, para um estudo mais aprofundado, com a ajuda de alguns aparelhos sofisticados e outros mais 'clássicos' (como as varetas Hartmann, cujo nome é uma homenagem ao médico alemão). “Medimos humidades, luminosidade, radiações, campos eletromagnéticos, PH da água, a ligação do edifício à terra, entre outros factores, e muitas vezes chegamos à conclusão que o problema não está dentro de casa, mas fora”, diz Marcelina, referindo-se a antenas de telecomunicações ou linhas de água no terreno.
Ambos concordam que o ideal é construir um projecto de raiz, mas que é sempre possível adequar as casas aos hábitos de cada habitante e aos tempos modernos. “Não somos fundamentalistas”, assegura Miguel.