Encontrados ‘graffiti’ subterrâneos com nomes de dois mil soldados da Primeira Guerra

Uma investigação arqueológica a túneis medievais de uma pedreira em França revelou assinaturas e datas mais recentes, mas não menos importantes: quase dois mil soldados escreveram nome naquelas paredes durante a Primeira Guerra Mundial. Segundo a agência AP, até ao momento foram identificados 1821 nomes, a maioria de australianos.

Encontrados ‘graffiti’ subterrâneos com nomes de dois mil soldados da Primeira Guerra

O nome, a data, o posto, o batalhão, o país, a cidade natal, uma frase. Todas estas informações ou pelo menos algumas compõem os graffiti encontrados em Naours, cerca de 150 km a Norte de Paris. A importância desta descoberta – a maior concentração de assinaturas de soldados da Europa – ganha ainda mais força porque a poucas dezenas de quilómetros aconteceram alguns dos maiores combates da Primeira Guerra Mundial, a Batalha do Somme, onde mais de um milhão de soldados dos dois exércitos morreram ou ficaram feridos.

As inscrições foram encontradas pelo arqueólogo Gilles Prilaux, do Instituto Nacional de Arqueologia de França, que começou o seu trabalho em Julho do ano passado para investigar a utilização daquelas grutas – uma rede de túneis com três quilómetros de uma antiga pedreira de calcário – durante a época medieval, como forma de protecção contra exércitos de passagem. Desde Dezembro, as assinaturas têm vindo a ser fotografadas por Jeff Gusky, um médico americano conhecido por fotografar subterrâneos usados na Primeira Guerra.

Gusky fotografou 1821 assinaturas e conseguiu identificar 731 australianos, 339 britânicos, 55 americanos e alguns franceses. Para 662 nomes a nacionalidade ainda não foi confirmada. “Estes homens queriam ser recordados” afirmou Jeff Gusky à AP.

Segundo Gilles Prilaux, muitos dos soldados terão ido para aquelas grutas, já conhecidas, para descansar antes ou depois de uma batalha, sabendo que estariam em segurança. As assinaturas que deixavam eram indicadoras do seu estado de espírito ou da incerteza no futuro. Uma delas revela o sentimento de pequenez de um combatente perante a dimensão da guerra. A 13 de Julho de 1916, o australiano Herbert John Leach escreveu: ‘HJ Leach, apenas soldado’. Através de outros registos militares e históricos sabe-se o destino do soldado de 25 anos – morreu pouco mais de um mês depois, a 23 de Agosto, na Batalha de Pozieres.

emanuel.costa@sol.pt