2. Plano B. De cofres vazios, com dificuldade em concretizar um programa económico, a grexit parece cada vez mais próxima. Aparentemente tudo se decidirá em Abril. O day-after começa já a ser delineado. Avança-se a ideia, em alternativa a uma saída desordenada, de o Estado grego pagar aos seus funcionários e credores nacionais em notas promissórias. Se estas promissórias forem credíveis (isto é, se o Estado as aceitar de volta como pagamento de impostos), rapidamente começarão a circular como meio de troca alternativo e, assim, converter-se-ão numa moeda para consumo interno. Os preços e salários continuarão a ser cotados em euros mas circularão duas moedas, o euro e a nota promissória. E, claro, o mercado encarregar-se-á de estabelecer uma taxa de câmbio entre as duas: inicialmente serão emitidas ao par – ou seja, um funcionário com um salário de 1.000 euros receberá notas promissórias desse exacto montante; porém, rapidamente, esse funcionário verificará que se quiser utilizar as promissórias como modo de pagamento, o supermercado apenas lhe permitirá comprar mercearias no valor de 500 euros. Por outras palavras, a notas promissórias desvalorizar-se-ão 50% e o nível de vida do nosso funcionário ter-se-á reduzido pela metade.
3. Financiamento da ciência. A Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT) está sob fogo cerrado por parte de investigadores dos centros de investigação, descontentes com os resultado do último exercício de avaliação de qualidade e concomitante financiamento. É verdade que a FCT cometeu alguns erros (infantis, diria) neste processo. Por exemplo, não se entende porque não apresentar separadamente dois tipos de financiamento com que se havia comprometido: o de base – indexado à dimensão do centro – e o estratégico – reflectindo a sua qualidade. Mas este é um erro de forma ou, na pior das hipóteses, de segunda ordem. No essencial a FCT merece elogios: o exercício de avaliação foi internacional, isento, credível e rigoroso. Ousou cortar o financiamento a alguns centros, e bem. Quanto muito terá pecado por defeito: em Portugal muito do que se faz em nome da ciência não tem genuína qualidade internacional e o país ganharia se os recursos escassos forem concentrados onde maior impacto podem produzir.
4. Redundâncias. Escrever hoje sobre o acidente do A320 da Germanwings é redundante. Tudo já foi dito e redito. Todavia, as viagens aéreas representam uma parte tão importante da minha vida que não consigo fugir ao registo. A ideia essencial da segurança de um avião é a da existência de sistemas redundantes. Faltou um: a redundância para o homem.