Mas sobre a Madeira e suas repercussões na política nacional – uma derrota (mais uma) objectiva de António Costa – já aqui escrevemos longamente. A notícia que dominou o fim de semana de Páscoa foi o lançamento iminente da candidatura de Sampaio da Nóvoa à Presidência da República. Quem é Sampaio da Nóvoa? Professor Universitário da Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação, ex-militante do Partido Comunista Português (com o qual, afiançaram-nos, ainda mantém relações muito cordiais: é um caso de um ex-comunista adorado por Jerónimo de Sousa…), anterior Reitor da Universidade de Lisboa. E, ao que consta, amigo pessoal de António Costa e da sua família e pessoa muito grata do actual líder socialista.
Quais são as valências de Sampaio da Nóvoa, ou em termos mais rigorosos, o que fez Sampaio da Nóvoa ficar conhecido abruptamente? Sim, porque se recuarmos três anos, Nóvoa era um perfeito desconhecido, completamente alheio à vida política. E quem o lançou para a ribalta política? Cavaco Silva! Foi Cavaco Silva que lançou Sampaio da Nóvoa para o espaço mediático, quando o convidou para proferir o discurso do dia de Portugal em 2012. Nóvoa é um orador de enorme valia, um verdadeiro sofista – frases elegantes, muito bem construídas, que o povo gosta de ouvir: mas desprovidas de qualquer conteúdo útil. Sampaio da Nóvoa, ao contrário do que dizem, não representa uma lufada de ar fresco na vida política portuguesa – insere-se numa linha dominante e hegemónica de políticos portugueses. Na linha daqueles que falam, falam, falam – e não dizem nada. Nóvoa é um sofista de mão cheia – como, aliás, qualquer intelectual comunista que se preze.
Dito isto, será que Sampaio da Nóvoa avançará mesmo? Não temos qualquer dúvida: Nóvoa é candidato a Belém. A máquina de campanha já está a ser “oleada” e os seus apoiantes (todos intelectuais de esquerda comunista, velha esquerda aristocrática e esquerda caviar) já se desmultiplicam em tarefas logísticas e de divulgação da campanha. Está a ser preparada uma sessão de lançamento da candidatura, qualificada pelos seus próximos de “grandiosa”.
E o PS apoiará Sampaio da Nóvoa? Respondemos, sem dúvidas, afirmativamente. António Costa vai apoiar Sampaio da Nóvoa para Belém. Por três razões evidentes.
Primeiro: António Costa já se terá comprometido pessoalmente com Sampaio da Nóvoa de que o PS iria apoiá-lo oficialmente, cobrindo as despesas da campanha eleitoral. Uma campanha eleitoral desta dimensão comporta custos elevadíssimos que Sampaio da Nóvoa e seus apoiantes não conseguem suportar pessoalmente – pelo que a decisão de avançar teria como pressuposto inevitável o apoio da máquina do Partido Socialista. E a forma quase profissional como Sampaio da Nóvoa lançou a informação do lançamento da sua candidatura ao EXPRESSO mostra à exaustão que há aqui muito dedo de António Costa e da sua direcção política.
Segundo: após o lançamento remoto de Sampaio da Nóvoa por parte de cavaco Silva, quem criou a imagem de Nóvoa como candidato Presidencial foi António Costa. Quando? Quando o convidou para ser a estrela de oratória do último Congresso do Partido Socialista. Com que cara vai agora António Costa dizer que não a Sampaio da Nóvoa? Costa leva Nóvoa ao Congresso para habituar os militantes do partido à ideia de que o ex-comunista é o candidato presidencial do partido –e agora, face à candidatura de Nóvoa, Costa teria descaramento para dizer que não o apoiaria? Bem, vindo de António Costa, tudo é possível. Mas – que diabo! – há limites para o descaramento político e falta de princípios de António Costa!
Terceiro: António Costa está-se, utilizando uma expressão bem portuguesa, a marimbar para as eleições presidenciais. Costa não quer saber das presidenciais: o líder do PS está tão apertado, tão aflito em ganhar as legislativas que toda a sua acção política está focada em derrotar Passos Coelho em Outubro. Como António Costa não tem nada para dizer, não tem nenhuma proposta alternativa para oferecer aos portugueses –tem mesmo que recorrer a estratagemas, a manobras políticas para derrotar a coligação PSD/CDS. E o apoio a Sampaio da Nóvoa é uma pura manobra eleitoral. Em que sentido? Por um lado, permite a António Costa manter uma “distância de segurança” face às intromissões de Mário Soares e Manuel Alegre na definição da acção política do PS, dando este caramelo (apoio a uma candidatura de um ex-comunista, de esquerda radical) à ala mais conservadora, mais ortodoxa do PS; por outro lado, o apoio a Sampaio da Nóvoa é uma carta de amor de António Costa ao eleitorado de extrema-esquerda, designadamente ao PCP e à Renovação Comunista e a uma meia dúzia de intelectuais de esquerda caviar. Tudo isto para António Costa alargar o seu “espaço vital” de apoio, numa lógica de capitalizar votos em estado de necessidade eleitoral (basta analisar as sondagens publicadas nas últimas semanas).
Temos, pois, desvendado o mistério: o candidato a Belém do PS chama-se Sampaio da Nóvoa. Não deixe de causar perplexidade um partido moderado como é o PS apoiar um candidato comunista, anti-americano e anti-capitalista e céptico quanto à globalização e ao projecto europeu. A sobrevivência política de António Costa já dá para tudo…O Nóvoa é, enfim, um retrato perfeito da névoa que assola o PS de Costa…