O outro Van Gogh

Não se vai encontrar em cena aquele quadro dos girassóis ou o outro famoso do quarto em Arles. Nem sequer o auto-retrato com a orelha cortada que toda a gente já viu. Para ver a peça O Meu Irmão – Théo e Vincent Van Gogh, que estreia esta quarta-feira no Teatro-Estúdio Mário Viegas, em Lisboa,…

O outro Van Gogh

“Não é por acaso que a cenografia é constituída por uma cortina de esquadrias de telas vazias que se espalham também pelo chão”, explica a encenadora Teresa Faria, que encontrou no actor Sérgio Praia “o talento e a fisionomia” ideais para dar vida a este monólogo que é ao mesmo tempo um diálogo do irmão Théo, aquele que passou a vida a ser o homem-sombra, com o irmão mais velho a quem sempre apoiou para se tornar artista.

“Théo era o primeiro a ver os quadros e sem ele não teríamos agora acesso à obra do irmão. Agarrar na história por esta perspectiva é mais delicado porque é como tentar dar brilho à sombra”. Em cima da efeméride que assinala os 125 anos da morte de Vincent Van Gogh, e que está a inspirar várias cidades europeias a seguir o mote 2015 Ano Van Gogh: 125 Anos de Inspiração, Teresa Faria leu muitos livros sobre o pintor e também as mais de 600 cartas trocadas entre os dois irmãos.

Acabou por construir o espectáculo a partir do livro da jornalista Judith Perrignon, que descreve a vida de Théo ao longo dos seis meses que passaram entre a morte de Vincent e a do irmão. Um percurso que passa pelas angústias de Théo, por memórias de infância e pelo desejo imenso de fazer justiça às mais de 100 telas que o pintor lhe deixou.

Nesta luta para garantir a consagração da arte do irmão, Teresa Faria encontra uma forma de homenagear todos os artistas. “Os artistas são maltratados desde que existem e continuam a ser. Como acontece com os actores hoje em dia em Portugal. Se não fosse pelo irmão, hoje nem tínhamos acesso a nada do que aqui se fala”.