‘Ainda estou com medo’ diz homem que filmou morte de negro desarmado

O homem que filmou um agente da polícia da Carolina do Sul, nos EUA, a disparar os oito tiros que mataram pelas costas Walter Scott, decidiu sair do anonimato e diz que ainda está “com medo”.

Feidin Santana, um emigrante de 23 anos originário da República Dominicana, filmou tudo o que aconteceu e aceitou na quarta-feira ser entrevistado pela MSNBC. À estação de televisão contou que sentiu que a sua vida “podia estar em perigo” e que “até pensou em apagar o vídeo e sair da comunidade”, isto é, da cidade de Charleston “para ir viver para outro lado qualquer”.

“Não nego que percebi a magnitude do que estava a filmar”, acrescentou. “Sabia que o polícia não tinha feito a coisa certa".

Foi quando ouviu as notícias do incidente – e a versão do polícia que alegou ter disparado ao estar em perigo porque Scott tentava tirar-lhe o taser – que optou por avançar. “Pus-me na posição da sua família” explicou, acrescentando: “Queria que eles tivessem isto e fizessem alguma coisa com o vídeo”. Se as imagens não existissem “nada teria acontecido”, considerou também.

Santana chegou a ir à polícia e revelou que tinha o vídeo a provar a sua versão. Quando um agente lhe perguntou se “era verdade” que tinha as imagens, teve medo e fugiu para a barbearia.

Já esta tarde (manhã nos Estados Unidos) voltou a ser entrevistado no programa Today Show, da NBC, onde afirmou ainda estar “com medo”. E que se sente frágil porque toda a gente, “inclusivamente a polícia”, sabe onde vive e a barbearia onde trabalha. “A minha vida mudou em segundos”.

O polícia, Michael Slagger, de 33 anos, foi entretanto acusado de homicídio. No intenso debate que decorre nos EUA, fala-se da falta de preparação das forças de segurança. Mas também, acrescenta o New York Times em nota do seu conselho editorial, do facto de  “a polícia mentir sobre as circunstâncias que a levam a usar a força para escapar de punições quando mutila ou mata pessoas injustificadamente”.

teresa.oliveira@sol.pt