Presidenciais: a estratégia (pouco) escondida de Morais Sarmento

1. Nuno Morais Sarmento no seu espaço de opinião semanal de opinião tentou lançar o caos no espaço político de centro-direita quanto às presidenciais. Como? Reafirmando a estratégia que já tinha sido revelada subtilmente por Marco António Costa, segundo a qual convém lançar o candidato presidencial deste espaço político até Julho.

2. Argumento avançado por Nuno Morais Sarmento para justificar o seu calendário para as presidenciais: em Outubro, o país político estará demasiado ocupado a discutir os cenários de governabilidade, pelo que o lançamento de uma candidatura presidencial por esta altura seria prejudicial – o candidato seria inexoravelmente contaminado por aqueloutra discussão sobre a composição de um governo estável. O primeiro facto curioso desta história toda é a espantosa coincidência de estratégia entre Marco António Costa – que, por acaso, é vice-presidente do PSD – e Nuno Morais Sarmento. Estas duas personagens políticas têm algo em comum? – questionam certamente os leitores mais distantes das minudências da vida política e, sobretudo, dos “bastidores” da vida política. E a resposta é afirmativa: Morais Sarmento e Marco António Costa têm uma ligação política em comum – precisamente a Rui Rio. No que respeita a Morais Sarmento a ligação é mais perene; quanto a Marco António Costa, a sua ligação a Rui Rio é mais recente e motivada por factores circunstanciais.

3. Obviamente que Rui Rio concertou com os seus dois aliados Marco António Costa e Nuno Morais Sarmento a estratégia a seguir. Na Política não há coincidências – e o mesmo tom adoptado por Marco António Costa e Nuno Morais Sarmento revela que Rui Rio está a seguir um guião e já o explicou convenientemente aos seus próximos.

4. Não podemos esquecer que Rui Rio é um estratega nato e que, pese embora o seu discurso de enorme cepticismo face à política e aos seus mecanismos, não vive sem a política. Melhor: não vive fora da política. Ora, Rui Rio – que sempre teve ambições políticas nacionais, mesmo antes de abandonar a presidência da Câmara Municipal do Porto – percebeu que tinha de ir buscar o apoio de gente com influência na máquina do partido: que conheça o partido, que conheça as bases e que possa virar o partido a seu favor no momento adequado.

5. Neste sentido, ninguém melhor do que a dupla Sarmento-Marco António. Nuno Morais Sarmento –a generalidade dos portugueses não tem noção  deste facto – foi o militante do PSD que nos anos da liderança de Passos Coelho mais tem trabalhado a máquina do partido: contactos com bases, encontros com dirigentes locais, angariação de militantes e todos os salamaleques necessários à conquista do poder no partido. Há mesmo quem diga que caso Sarmento avançasse hoje para a liderança do PSD, tornar-se-ia muito facilmente o novo Presidente do partido. Seria trigo limpo, farinha amparo para Nuno Morais Sarmento. Logo, este advogado e ex-Ministro não está fora – está dentro, e muito dentro, da vida político-partidária. O seu apoio é muito apetecível, neste momento, para quem pretenda chegar longe no PSD. O Barrosismo – sempre ele – a condicionar o futuro do PSD.

6. Rui Rio pegou estrategicamente em Sarmento: já foram colegas, já foram companheiros de percurso, hoje são amigos íntimos. Note-se que Morais Sarmento até prefaciou e apresentou a biografia (já agora: aquela, como já aqui escrevemos, é uma biografia muito pobre para futuro Primeiro-Ministro ou Presidente da República…) de Rui Rio! Enfim, Rui Rio acha que Nuno Morais Sarmento, com o seu peso dentro do PSD, o apoiará e será decisivo para ganhar a liderança do PSD.

7. E Marco António Costa? Marco António Costa nunca teve uma relação muito fácil com Rui Rio: Marco António era o braço direito de Luís Filipe Menezes na Câmara Municipal de Gaia e entre Menezes e Rio sempre existiu um ódio reciproco intenso. Desde que Marco António é vice-Presidente do partido, as relações estreitaram-se entre os dois (há quem diga que foi desde o tempo em que Marco António exerceu funções como Secretário de Estado da Segurança Social). Porquê? Por uma razão muito simples: pelo instinto de sobrevivência política de Marco António.

8. De facto, Marco António percebeu o seguinte: Passo Coelho poderá perder as próximas legislativas e, mesmo que perca por pouco, não ficará na liderança do partido, logo Marco António entende que não se pode colar excessivamente a Passos Coelho; por outro, Marco António não poderá contar com o apoio do seu amigo Miguel Relvas, porque Miguel Relvas aposta noutro – em Luís Montenegro – para liderar o PSD; perante este cenário, o caminho para Marco António chegar a líder está tapado – resta-lhe, para manter a sua influência no partido, apoiar um candidato forte. Que seria Rui Rio.

9. Tudo isto é verdade: importa, no entanto, efectuar uma precisão. É que há uma forma de quer Morais Sarmento, quer Marco António poderem sonhar com a liderança do partido – e, portanto, não se limitarem à função de ajudantes de campo de Rui Rio. Qual? Lançando Rui Rio para Belém.

10. O leitor já terá percebido o filme: se Rui Rio for candidato presidencial abdica naturalmente da liderança do PSD, abrindo caminho à candidatura de Nuno Morais Sarmento, que domina a máquina mas tem medo do peso e notoriedade de Rui Rio. Quanto a Marco António, este pode fazer uma de duas coisas: 1) ou fica como braço direito de Morais Sarmento, apoiando a sua candidatura; 2)ou, aproveitando o desaparecimento de cena de Rui Rio, avançar com uma candidatura própria, tentando aproveitar o apoio de alguns riistas e de alguns passistas. Neste cenário, a luta pela liderança do PSD seria entre Morais Sarmento e Marco António Costa – com a possibilidade de Montenegro desistir a favor do último, o que lhe asseguraria o apoio de Miguel Relvas.

11. Em conclusão: Nuno Morais Sarmento ao defender a antecipação da candidatura presidencial está, apenas e só, a pensar nele e na sua estratégia de poder. Aliás o argumento é ridículo: então, o candidato presidencial não pode avançar em Outubro porque ficaria contaminado com a discussão sobre como empossar um governo maioritário ou, pelo menos, estável – então se o candidato avançar já, não se terá de pronunciar sobre esta matéria? Se avançar agora, o candidato não terá de se pronunciar sobre uma questão política chave do país? Se avançar em Abril, Maio ou Junho – o candidato poderá planar sobre as questões políticas mais importantes; mas se avançar em Outubro fica contaminado? Isto é tão, tão, mas tão ridículo…Quem fica mal na fotografia? Nuno Morais Sarmento e, sobretudo, Rui Rio. Explicaremos mais em detalhe a estratégia muito perigosa de Rui Rio, que parece estar a concorrer com António Costa no estatuto de maior fraude da política portuguesa. Enfim!