Sampaio da Nóvoa: ‘Inexperiente, radical e intervencionista’

Sampaio da Nóvoa ainda não apresentou formalmente a candidatura a Belém mas já fez disparar os alarmes no PS. A inexperiência na política, o facto de se colar à esquerda do PS, perdendo ao centro, e o possível papel intervencionista como Presidente são os pecados apontados. 

Sampaio da Nóvoa: ‘Inexperiente, radical e intervencionista’

Depois de no último sábado o Expresso dar como certo o avanço do ex-reitor da Universidade de Lisboa, com o carimbo de Mário Soares, o secretário nacional Sérgio Sousa Pinto foi demolidor: “Assistimos com horror à demagogia venezuelana do Podemos e o fenómeno político latino-americano apareceu-nos pela porta traseira. Esta não é a minha esquerda”, escreveu no Facebook.

O primeiro tiro estava dado e muitas foram as vozes que se lhe juntaram. Referem, por exemplo, que o facto de Sampaio da Nóvoa estar fora da política e dos partidos lhe retira a capacidade de influência necessária ao exercício do cargo. E que o perfil intervencionista que lhe adivinham será prejudicial, numa altura em que a maioria absoluta para o PS ainda é só uma miragem e será necessário alguém a moderar eventuais acordos partidários.

Há também quem sublinhe que é ao centro que se ganham eleições e que Nóvoa se posiciona próximo da “esquerda radical”, assustando os votos do 'centrão'.

Tiro ao Nóvoa

Apesar de ter ganho protagonismo com o discurso no 10 de Junho de 2012 e outras mais recentes intervenções públicas, como a que fez no Congresso do PS, em Novembro, os mais críticos acusam-no de vacuidade e demagogia. Além disso, é um desconhecido para a maioria da população, penetrando apenas nos meios mais académicos.

Para o histórico socialista Vera Jardim, Nóvoa “não tem o perfil de um Presidente” por lhe faltar “poder moderador”. E frisa que não se vê a apoiar uma candidatura de alguém “muito interventor”, que vê o papel de Presidente “mais como programa de Governo”.

O ex-eurodeputado Vital Moreira foi mais longe ao colar a Nóvoa um “discurso político próximo das esquerdas radicais”, apelidando-o mesmo de “trouble maker institucional”.  A opinião é partilhada pelo deputado José Lello ao SOL: “É uma lebre da esquerda mais radical portuguesa”. Lello vaticina mesmo que, se Sampaio da Nóvoa se candidatar, “vai apanhar um grande banho” por não colher votos ao centro.

“Na sua retórica vislumbra-se uma tendência para a proclamação abstracta de valores algo etéreos e descortina-se ainda uma vontade de intervenção não inteiramente adequada à natureza da função presidencial”, escreveu Francisco Assis, no Público. O eurodeputado mostra-se preocupado com “algumas considerações formuladas acerca do projecto europeu” e critica a “linguagem equívoca em relação ao mundo político”: “Parece excessivamente deslumbrado com uma ideia de regeneração adâmica da vida nacional”.

Em defesa do ex-reitor

O primeiro a dar um sinal de apoio a Sampaio da Nóvoa foi o presidente do PS, Carlos César, ao referir que vê “vantagens” em que o candidato do partido seja um independente. No Expresso, Mário Soares foi o mais claro:  “Gostaria que fosse candidato e naturalmente que o apoio”.

Neste turbilhão,  Manuel Alegre foi uma das vozes a defenderem Nóvoa, “um democrata que se identifica com o 25 de Abril, um  homem de esquerda e não um esquerdista”. As qualidades académicas, a integridade e os valores de esquerda do professor universitário são enaltecidos por quem o apoia. Ao SOL, a eurodeputada Ana Gomes diz que é um “excelente candidato”. Já um dos fundadores do PS, António Arnaut, garantiu, no i, que “é um sujeito que teve uma vida íntegra”, apontando-lhe as “qualidades morais e intelectuais”.

Para já, o líder do PS tem-se resguardado e recusa falar do assunto, mas tem aparecido ao lado de Sampaio da Nóvoa em várias iniciativas públicas.

Nascido num 10 de Junho