“Quando suspendemos o contrato perdemos receitas legítimas”, explicou o ministro dos Negócios Estrangeiros Sergei Lavrov, defendendo não haver agora razões “para continuar com a suspensão, devido aos progressos no diálogo sobre o programa nuclear iraniano e à natureza absolutamente legítima do actual acordo”.
A decisão promete criar divisões entre o grupo de potências internacionais que negoceia com Teerão uma solução diplomática para um programa nuclear que os iranianos dizem ter apenas fins civis mas que é visto pela comunidade internacional como um meio para chegar à bomba atómica. Em 2010, Moscovo tomou a decisão de não concluir a venda dos mísseis terra-ar S-300 devido ao receio das restantes potências em ver o avançado sistema impedir um ataque militar às centrais nucleares iranianas.
Duas semanas depois de um pré-acordo entre o Irão e o grupo que junta EUA, Rússia, China, França, Reino Unido e Alemanha – que prevê o fim das sanções económicas do Ocidente em troca de uma desaceleração do programa iraniano e da inspecção das suas centrais nucleares –, Moscovo começa a preparar a sua posição num cenário em que o Irão será apenas mais um parceiro comercial.
“Se adiarmos e deixarmos o Irão à espera, amanhã, quando as sanções forem suspensas, Washington e os seus aliados ficarão com o grande mercado iraniano”, disse à Reuters Leonid Ivashov, um general russo reformado que o Centro de Análise Geopolítica de Moscovo.
O Kremlin aproveitou a ocasião para assumir outro negócio que estará a ser debatido nos bastidores há mais de um ano. “Queria chamar a atenção para os avanços no acordo que prevê a troca de petróleo por outros bens, que já atingiu uma escala significativa”, disse o vice-MNE, Sergei Ryabkov perante os deputados da câmara alta da Duma.
Referia-se a um negócio que a Reuters diz poder envolver 20 mil milhões de dólares, com a Rússia a receber 500 mil barris de petróleo por dia a um preço de saldo devido ao envio de outros materiais para o Irão.
“Em troca do petróleo iraniano, estamos a enviar certos produtos. Isto não está proibido nem limitado pelas actuais sanções ao regime”, garantiu Ryabkov, dando como exemplos cereais e material de construção.