Não negamos – muito longe disso! – a preparação económica de Rui Rio e os conhecimentos de gestão financeira e orçamental de que dispõe. Mas tais conhecimentos são cruciais para um técnico superior, um administrador ou um decisor com responsabilidades exclusivas na área das finanças e orçamento – são, no entanto, insuficientes para afirmar um político, um estadista que possa gerar consensos e insuflar esperança nos portugueses quanto ao seu futuro, individual e colectivo.
Escrevemos, pois, que a afirmação política de Rui Rio se deveu a um mero acaso. Rui Rio, em 2001, foi a escolha do PSD para a Câmara Municipal do Porto por uma questão de vazio de alternativas e lutou para perder por poucos votos num município então dominado pelo Partido Socialista. No entanto, o episódio da fuga de Fernando Gomes para o Governo de Guterres – experiência desastrada e desastrosa para a sua carreira política – e o pântano em que Guterres havia mergulhado Portugal criaram condições objectivas para a vitória de Rui Rio no Porto. Depois, com uma gestão cautelosa, muito centrada em aspectos orçamentais (ou devemos dizer só em questões orçamentais?), aproveitando o conservadorismo do eleitorado portuense, Rui Rio obteve maiorias sucessivas. De uma figura praticamente desconhecida dos portugueses, Rui Rio passou a político respeitado, credível, embora muito pouco consensual, pouco imaginativo, pouco criativo e gerando muitíssimos ódios.
Pelo meio, Rui Rio não descurou na totalidade a política nacional. A ambição de Rui Rio sempre foi a política nacional, designadamente a liderança do PSD. Para atingir este objectivo, Rui Rio adoptou uma postura de grande cautela, limitando a sua intervenção nacional ao mínimo. Com uma excepção: ter aceitado o encargo de ser o braço-direito de Manuela Ferreira Leite entre 2007 e 2009. E essa experiência não coreu bem: o PSD ficou reduzido a um discurso exclusivamente orçamental e “financeirista” que não logrou convencer os portugueses. A estratégia Ferreira Leite-Rui Rio não resultou em 2009, tendo gerado um resultado dramático para Portugal: a vitória eleitoral de José Sócrates. Com as consequências que todos (infelizmente) conhecemos.
A propósito da relação de Rui Rio com Manuela Ferreira Leite importa evocar um episódio curioso: no dia da derrota eleitoral em Setembro de 2009, Rui Rio, o braço-direito da líder do PSD, foi dos primeiros a sair da sede do partido na noite da derrota eleitoral em Setembro de 2009. Ou seja, o vice-presidente deixa a Presidente do partido assumir pessoalmente a derrota contra José Sócrates. Percebe-se: Rui Rio não poderia ficar colado à derrota de Ferreira Leite quando ele próprio iria disputar eleições autárquicas daí a duas semanas e que não poderia ser um “Pacheco Pereira 2” (nós próprios estivemos então na sede do partido nessa noite e lembramo-nos de os jornalistas a procurar por todo o lado Rui Rio que fez uma curta declaração e saiu muito cedo…). Contudo, isto revela que Rui Rio tem um lado maquiavélico, de lobo solitário, que persegue os seus fins políticos não olhando a fidelidades pessoais. Para Rui Rio, todas as alianças políticas são contingentes e conjunturais: valem na medida em que reforçam ou favorecem as suas ambições políticas num determinado momento. Neste ponto, Rui Rio é o sucessor político natural de Cavaco Silva. No fundo, Rio quer ser Cavaco Silva versão XXI! Cavaco Silva, presidente é a versão analógica; Rui Rio é a versão digital do cavaquismo!
Aliás, tal como Cavaco, Rio tem um discurso fortemente anti-políticos e anti-jornalistas: e, no entanto, Rio é um político profissional nato, domina todas as técnicas políticas que critica e a sua notoriedade deve-se a uma boa comunicação social e aos escritos favoráveis que os jornalistas sobre ele escrevem. Diga-se, em abono da verdade, que nenhum outro político – para além de Rui Rio – goza do privilégio de poder afirmar que a culpa dos problemas da nossa democracia é dos jornalistas, sem que os jornalistas se ofendam (e alguns até aplaudem). Neste ponto, Rui Rio aproxima-se perigosamente de José Sócrates – Sócrates também achava que o problema de Portugal eram os jornalistas e os jornais livres, que remavam contra a maré da desgraça que assolava Portugal nos anos socráticos.
O mais surpreendente – o que mostra que é uma figura política muito curiosa e complexa – é que Rui Rio que cultivou sempre a ideia de homem determinado, que sabe muito bem o que quer e para onde vai, sem hesitações nem dúvidas metafísicas, veio agora contraria completamente a imagem que cultivou durante anos. Porquê? Porque Rui Rio – com esta estratégia de dar a ideia de que é candidato a Belém e a São Bento: tudo serve desde que Rui Rio tenha um cargozinho político – revela que Rio, afinal, é titubeante, indeciso, muito hesitante e que só pensa em si.
E que só vive da política: Rui Rio parece alguém desesperado para ter um cargo político. Então mas Rui Rio não consegue arranjar um trabalho, numa empresa privada, no mercado de trabalho como qualquer português? Com tantas valências profissionais, de gestão, Rio precisa assim tanto de ir para Belém ou São Bento, colocando-se nesta posição ridícula? É que Rui Rio tem de perceber, de uma vez por todas, que a Política não é um buffet ou um rodízio! Não se escolhe exercer funções políticas de elevado relevo da mesmoa forma que se escolhe comer uma salada, uma pizza ou um bitoque!
O que leva à nossa pergunta final: qual é o Rui Rio verdadeiro? É o Rio com sentido institucional – ou o Rui Rio desesperado, à procura a todo o custo de um cargo político, imitando os “boys” partidários que ele tanto critica? Talvez o Psiquiatra, amigo de Rui Rio, possa explicar esta personalidade dualista de Rui Rio no seu livro “ Raízes de Aço”. Já agora: “ Raízes de Aço” será o piscar de olhos de Rui Rio à extrema-esquerda saudosista da muralha de aço do companheiro Vasco? Enfim: Rui Rio tem de se acalmar, respirar fundo e sentar-se um bocadinho para pensar o que fazer à sua vida.