As taxas Euribor em 0% proporcionam uma folga orçamental bem-vinda no orçamento de muitas famílias. Mas esta situação também comporta os seus riscos: com os empréstimos baratos, pode existir muito crédito que seja aplicado em aquisições no imobiliário, provocando uma subida de preços exagerada, na gíria uma “bolha”, no preço das casas. Em Portugal ainda estamos longe desse ponto, mas devemos estar cientes do risco. E, quando as bolhas rebentam, são muito dolorosas.
2. Outro assunto é o desvario de promessas que parece ter-se apoderado do PS e do PSD. Por exemplo, o PS promete que, se ganhar, aumenta o salário mínimo nacional para a casa dos 520/530 euros (não me lembro do número exacto). Ora, convirá que a subida seja mais moderada porque aumentar o salário mínimo nacional, segundo muitos economistas, cria desemprego. O PS ainda não apresentou o seu programa económico mas, de uma forma mais geral, a ideia base parece ser prometer o fim imediato da austeridade no caso de ser chamado a formar governo.
O PSD não aposta tanto no aumento da despesa, mas quer cortar receitas: divulgou um calendário de alívio fiscal até 2019, e isto é anunciado no mesmo dia em que um secretário de Estado admite que, se não fossem as transferências do orçamento geral do Estado (4.500 milhões de euros em três anos), a segurança social estaria falida. Mas não tenho a certeza que prejudicar os reformados seja a melhor solução para este problema.
Na minha opinião, qualquer governo português não deve ter pressa nas reduções de impostos.
E porquê? Bem, PS e PSD parecem esquecidos que, com os seus votos na Assembleia da República, Portugal assinou o tratado orçamental, que obriga a que, a partir de 2016, os défices dos países signatários deste tratado não excedam 0,5% do PIB por ano (o português, apesar de toda a austeridade, foi de 4,5% do PIB no ano passado), e que temos de reduzir a nossa dívida pública, que está em 130% do PIB, em 3,5% do PIB por ano em 2016 e em cada um dos 19 anos seguintes.
A situação do país é muito grave, pelo que a prudência e os sacrifícios continuam a ser necessários. PS e PSD poderiam assinar um compromisso pré-eleitoral, no qual se comprometessem a, na próxima legislatura, respeitarem alguns valores, por exemplo para o défice orçamental e para a dívida pública. Realmente, o que eu gostaria de ver seria uma campanha eleitoral com honestidade intelectual, sem promessas irrealizáveis. Essa estratégia pode resultar eleitoralmente. Os portugueses que votam são adultos, quiçá reajam bem se forem tratados com franqueza e com honestidade.