A velha senhora da política americana está na corrida

Quem tem medo de Hillary Clinton? Aos 67 anos a ex-primeira-dama, ex-senadora e ex-secretária de Estado quer a cadeira máxima do poder nos Estados Unidos e anunciou a candidatura às eleições presidenciais de 2016. Há oito anos, perdeu nas primárias para Barack Obama, o primeiro Presidente negro dos EUA. Volta agora à carga para ser…

A velha senhora da política americana está na corrida

Com mais de duas décadas de currículo político com maior exposição mediática, Hillary acumula experiência na linha da frente. Mas o traquejo também pode jogar contra ela: não tem a frescura de uma figura nova no palco político ou que saia dos bastidores para ser protagonista.

Marc Rubio, um dos três candidatos já assumidos do lado republicano, reagiu à disponibilidade presidencial de Hillary com um assertivo “o ontem já acabou”. E os republicanos somam protocandidaturas: além de Rubio, há as dos também senadores Ted Cruz e Rand Paul, e pelo menos mais nove nomes consideram avançar. Entre estes, o mais bem posicionado é Jeb Bush, ex-governador da Florida e filho e irmão de dois anteriores Presidentes dos EUA. Uma eleição Bush versus Clinton pode tornar as presidenciais um duelo de clãs.

Na Scooby até ao Iowa

Hillary não desarma e esta semana, após o anúncio da candidatura, fez-se à estrada para 16 horas de carrinha (alcunhada de ‘Scooby van’ em homenagem aos desenhos animados) de Nova Iorque até Iowa.

Neste estado do midwest – o primeiro a escolher os candidatos às presidenciais –, em 2008, a então pretendente à nomeação democrata para a Casa Branca sofreu um revés na campanha de que não recuperou: nas primárias, ficou atrás de Barack Obama e John Edwards. Desta vez, não quis repetir erros e fez uma entrada mais modesta, com encontros em cafés e escolas para ouvir o cidadão comum.

A até agora única candidata democrata (os ex-governadores Martin O’Malley e Lincoln Chafee e o ex-senador Jim Webb ainda estão a apalpar terreno) prometeu defender os interesses da classe média e joga o trunfo de ser mãe e avó para atrair eleitorado feminino. Se quiser capitalizar a herança de Obama, tem de ser apelativa também junto da população negra e recolher o apoio dos hispânicos, valorizando as políticas de imigração que os republicanos contestaram.

O caminho até às presidenciais é longo e estará armadilhado: os detractores acusam Hillary de assobiar para o lado ao aceitar que a Fundação Clinton recebesse doações de governos estrangeiros quando foi secretária de Estado na administração Obama.

Controvérsia electrónica

E, recentemente, surgiu a polémica dos emails – cuja resposta não foi suficiente para calar os críticos. Enquanto ocupou esse mesmo cargo (2009-2013), Hillary apenas usou a conta pessoal de email. Quando foi necessário entregar para registo público as missivas electrónicas, a ex-secretária de Estado pediu aos assistentes que separassem os mails pessoais dos profissionais, e só entregou os de natureza oficial, prática que gerou desconfiança e que os inimigos políticos agradecem.

A 571 dias das presidenciais, a engrenagem da campanha já está em marcha. Se os democratas voltarem a vencer, conseguirão o terceiro mandato consecutivo na Casa Branca – um feito apenas consumado, desde o início do século XX, por Franklin D. Roosevelt, eleito para quatro mandatos entre 1933 e 1945 (e uma impossibilidade desde 1951, ano em que se determinou que um PR só pode ser eleito duas vezes) e sucedido, após morrer em funções, por Harry Truman. A Casa Branca foi democrata de 1933 a 1953.

Neste capítulo, os republicanos têm melhor nota: conseguiram três PR diferentes entre 1921 e 1933 e repetiram o hat-trick entre 1981 e 1993, com a dupla eleição de Ronald Reagan, sucedido por George Bush pai.

ana.c.camara@sol.pt