2. Não: muito pelo contrário. Já aqui escrevemos por diversas ocasiões que não deixa de ser impressionante que António Costa é o líder político que tem tido mais protagonismo nos últimos (largos) anos – sem que se lhe conheça qualquer ideia forte ou mesmo fraca. António Costa foi Ministro da Administração Interna – não deixou marcas, tirando a confusão monumental que foi o SIRESP. António Costa foi Presidente da Câmara Municipal de Lisboa – e foi um desastre. Dir-se-á que Costa ganhou diversos actos eleitorais em Lisboa. Pois, é verdade: mas essencialmente por falta de comparência e estratégia política do PSD. Mais demérito do PSD – do que mérito de António Costa.
3. Dito isto, António Costa, ontem, reapareceu. Para mostrar aos portugueses que o Governo é incompetente e propor caminho alternativo? Não. Para estudar no terreno as condições da economia portuguesa, os dramas dos empresários, as aspirações dos trabalhadores? Nem pensar. Discutir como promover o desenvolvimento justo e equilibrado de Portugal? Nada disso. António Costa interrompeu o seu longo silêncio e exílio político da oposição para…apanhar o intercidades para se deslocar ao Porto com militantes socialistas (previamente escolhidos) para a” Festa da Democracia”.
4. A “Festa da Democracia” , no fundo, foi um arraial para mostrar que o PS faz qualquer coisinha, mas não muito. À falta de melhor, o PS organiza uma festa de comes e bebes! Do ponto de vista de António Costa, a organização de uma festa com “comes e bebes” é uma ideia excelente: permite-lhe aparecer, dar uns beijinhos e abraços aos militantes, ter as televisões ao lado e…não se pronunciar sobre os problemas do país! É a ocasião perfeita para António Costa exercer a sua maior virtude: falar, falar, falar e não dizer nada. O líder do PS conseguiu a proeza de discursar por largos minutos e deixar uma única ideia: que a democracia é uma festa e em Setembro os portugueses vão ter uma festa com a saída do Governo e quando ele (António Costa) tornar-se Primeiro-ministro! Uau! Este homem é um génio! Que frase tão forte! Que patriota: entre bifanas e cervejas promete aos portugueses que a vitória dele (António Costa ) será uma festa! Perguntamos: festa para quem? Apenas para alguns – para o próprio António Costa e seus correligionários.
5. A “Festa da Democracia” só leva os portugueses a lamentarem esta democracia. Festejar a democracia não se faz com pirotecnia política, com iniciativas inconsequentes, populistas, apenas para chamar televisões e ter publicidade gratuita no prime time: a democracia tem de ser cultivada diariamente, com seriedade, com os políticos a trabalharem para ganhar o respeito e a admiração dos portugueses. A democracia consolida-se se mostrar aos portugueses que, de facto, é o melhor regime político para resolver os seus problemas. Que não há melhor regime, com todos os seus defeitos, para vencer os nossos desafios colectivos, respeitando aquilo que para nós é mais sagrado: a liberdade individual.
6. A democracia festeja-se explicando por que razão os inimigos da democracia – com Marine Le Pen à cabeça ou o Podemos! – estão errados: que estas forças políticas são um perigo para todos nós. E isto faz-se com ideias, com estudo e reflexão sérios, com um Governo transparente, rigoroso e que não tenha medo de dar a cara por ideias e convicções – enfim, um Governo ou políticos que não se escondam em silêncios.
7. As bifanas e as imperiais são boas, mas não como iniciativa política. Depois de se discutir o país, de contribuir com ideias para o futuro de Portugal, então sim, poderemos ir para os “comes e bebes”. Agora, António Costa convocar as televisões para andar de comboio e ir comer umas bifanas ao Porto, apresentando isto como uma grande iniciativa política…mostra à exaustão o vazio político em que se transformou o PS.
8. Mostra igualmente que o PS de António Costa mantém o socratismo bem vivo – José Sócrates está sempre presente no Largo do Rato. Esta iniciativa propagandística, sem conteúdo, apenas para televisão ver, era a especialidade política de José Sócrates. O que significa que, no PS, os líderes passam – mas a filosofia propagandística e a prática política mantêm-se. A “Festa da Democracia” foi uma excelente homenagem do PS a José Sócrates. O discípulo (António Costa) prestou bem a homenagem ao Mestre (José Sócrates).
9. Resta perguntar qual será – depois desta “Festa da Democracia” à PS de António Costa – a próxima iniciativa política socialista. Porventura Costa já pensa na Marcha “Socialista Pride!” organizada por Isabel Moreira! A festa do orgulho socialista! Os preparativos já estarão a decorrer?