2. Perguntará, neste passo, o leitor mais atento: mas não viveremos actualmente um período de acentuada tensão nas relações entre o nosso País e os EUA? Não poderemos qualificar este período como sendo, inclusive, um “período de crise” nas relações diplomáticas entre Portugal e os EUA? A resposta é clara e por demais evidente: não, não e não. As relações entre Portugal e os EUA estão mais fortes do que nunca. Diria mesmo que nunca estiveram mais saudáveis – nunca foram tão intensas como hoje. Senão, vejamos.
3. É verdade que há o problema mais sensível da base das Lajes e a anunciada intenção do Governo dos EUA em reduzir o contingente militar nos Açores – o que implicará a redução de trabalhadores americanos e portugueses. Certo. Note-se, contudo, que ao contrário do que tem sido repetido erradamente por muitos comentadores e políticos no activo (o que não deixa de ser altamente lamentável), esta decisão dos EUA não foi uma decisão surpresa: esta retirada há muito que havia sido anunciada pelos EUA – por compreensíveis motivos de mutações geoestratégicas verificadas no mundo do pós- Guerra Fria -, dando, pois, às autoridades portuguesas um tempo confortável para pensar e concretizar um plano alternativo que mitigasse, reduzindo ao máximo, as consequências negativas que tal retirada poderiam gerar para a economia e a sociedade açoriana. O que fizeram os Governos portugueses desde então? E – sobretudo e mais importante – o que fez o Governo Regional dos Açores? Rigorosamente nada. Carlos César – o actual braço-direito de António Costa – foi de uma incompetência atroz e altamente lesiva dos interesses açorianos: como percebeu que a decisão do governo dos EUA só seria concretizada já depois do término do seu período governativo, Carlos César deixou a “batata quente” para Vasco Cordeiro. Como Vasco Cordeiro é um mero núncio, um mero representante de Carlos César no governo dos Açores – Cordeiro não tem habilidade política, tem pouca inteligência política e nenhum talento -, é César que, em nome do PS, surge a atacar o Governo português e os EUA pela decisão. O governo é fraco – os EUA são egoístas. Eis a narrativa do PS quanto às Lajes.
4. A gestão do caso da Base das Lajes mostra à exaustão as fragilidades e os vícios da política portuguesa. Em vez de se tentar resolver os problemas, trabalhando, estudando e propondo caminhos alternativos – prefere-se entrar, antes, no jogo do “passa-culpas”, do criticar os governos estrangeiros, na frase sempre fácil do “ a culpa é do governo”, que dá para aparecer nos jornais, mas não resolve os problemas das pessoas. Tudo muito infantil. Tudo demasiado mau para ser verdade. Exige-se mais. Muito mais. Até Paulo Portas – que foi Ministro dos Negócios Estrangeiros durante dois anos e que mesmo como vice-Primeiro-Ministro nunca largou as matérias ligadas às relações externas de Portugal -, que deveria conhecer muito bem a matéria e estar bem informado, resolveu entrar na onda de censurar os EUA, afirmando, perante o Embaixador dos EUA em Lisboa, que as relações entre os dois países vive período muito difícil.
5. Sejamos sérios e claros: Portugal – os políticos portugueses – não fez o que deveria ter feito para atenuar ou dar a volta à situação gerada pela saída do contingente norte-americano das Lajes. Os que hoje se indignam – Vasco Cordeiro e Carlos César – tiveram quase uma década (!) para pensar, estudar, trabalhar num plano alternativo. Num plano que pudessem apresentar aos EUA para constituir uma base de trabalho para os governos de ambos os países chegarem a um entendimento quanto às condições da retirada e minimização das suas consequências. Mas não: Vasco Cordeiro e Carlos César nada fizeram. Não é isto incompetência? Incompetência a mais e trabalho e seriedade a menos? Depois, o Governo português – e os partidos da maioria governamental – acabam por aderir à narrativa incompetente do PS porque têm receio de eventuais consequências eleitorais. O PSD quer ganhar os Açores, pelo que tem de ficar bem na foto, querendo ser até mais duro do que o PS; o PS de Vasco Cordeiro, como não sabe o que há de fazer, tem de culpar o “árbitro”, leia-se, os EUA; o CDS de Paulo Portas, enfim…não pode ficar atrás: Paulo Portas quer ser o modelo perfeito do patriota inconsolável e não apresentar a versão correcta do problema, porque ele próprio tem culpas no cartório. Convém lembrar que Portas foi, antes de Ministro dos Estrangeiros, Ministro da Defesa entre 2002 e 2004…
6. Dito isto, terminamos como começámos: as relações entre Portugal e os EUA estão mais fortes do que nunca:
(i) O número de estudantes e jovens portugueses que brilham nos EUA está a aumentar;
(ii) As universidades portuguesas, em diversos domínios, estão cada vez mais a estudar a realidade norte-americana e a receber os ensinamentos das suas escolas – o que é de aplaudir;
(iii) O actual embaixador, Robert Sherman, tem promovido de forma exemplar os EUA no nosso país, não ficando isolado na embaixada: antes, o embaixador tem saído para conhecer a realidade portuguesa no terreno, visitando empresas, escolas, iniciativas culturais…enfim, é um embaixador carismático e muito trabalhador, que se apaixonou mesmo por Portugal;
(iv) O português adora os EUA: basta ver o sucesso das iniciativas e dos produtos relacionados com os EUA e que mostram o estilo de vida americano. Mesmo que as elites sejam cépticas quanto à política americana (ideologias oblige) , o português é genuinamente pró-americano;
(v) A Fundação Luso-Americana, ora liderada por Vasco Rato, tem, nos últimos meses, feito um trabalho de recuperação extraordinário da saúde financeira da Fundação, lançando iniciativas (em domínios vários) de enorme mérito e que têm reestabelecido a normalidade das relações entre os dois países. E o trabalho de Vasco Rato é particularmente complexo: suceder à muito incompetente e péssima gestora, Maria de Lurdes Rodrigues, que administrou a FLAD de forma dantesca, e conseguir manter a FLAD cheia de dinamismo – é obra!
7. Portugal e os EUA vivem, pois, um período de amizade fraterna: a nossa aliança é cada vez mais forte e vai muito para além da “espuma dos dias”.