Gestor do Grupo Lena confrontado com favores de Sócrates

Joaquim Barroca Rodrigues, a quem nesta sexta-feira foi decretada a prisão preventiva,  é um dos administradores do Grupo Lena já identificados pela Operação Marquês como autor de transferências avultadas de dinheiro  para a Suíça, para as offshores de Carlos Santos Silva – o empresário que o Ministério Público (MP) aponta como testa-de-ferro de José Sócrates…

Essas transferências foram explicadas por Carlos Santos Silva, quando interrogado,  como “pagamentos” daquele grupo, de que  foi administrador. Mas os factos já recolhidos indiciam muito mais.

De 53 anos, vice-presidente do Grupo Lena – que é liderado pelo irmão António, um ano mais velho -, Joaquim Barroca Rodrigues foi ontem interrogado no Tribunal Central de Instrução Criminal pelo juiz Carlos Alexandre e pelo procurador da República titular da investigação, Rosário Teixeira. Foi detido na quarta-feira, em Leiria, no âmbito de uma operação de buscas à sua casa e à sede da empresa. A operação realizou-se cinco meses depois da que trouxe o caso a público (a 20 e 21 de Novembro último).

As suspeitas de ‘luvas’

No interrogatório, o número dois do Grupo Lena foi confrontado com crimes de corrupção activa, fraude fiscal e branqueamento de capitais, indiciados por um conjunto de negócios que se suspeita terem sido conseguidos mediante o pagamento de 'luvas' a Sócrates. Nomeadamente, as obras da Parque Escolar, a construção de auto-estradas em Parceria Público-Privada e o primeiro troço da linha de TGV – concursos  adjudicados directamente ao Grupo Lena ou a consórcios que este integrava e que lhe valeram cerca de 200 milhões de  euros, como refere o MP, no acórdão do Tribunal da Relação de Lisboa que indeferiu a libertação de José Sócrates.

O MP confrontou-o também com os dados financeiros enviados pelas autoridades suíças, que revelam transferências para offshores de Santos Silva, independentes do seu ordenado como administrador do grupo. Este empresário, que detém dezenas de contas, é suspeito também de ter recebido alguns milhões do grupo para que Sócrates o favorecesse.

Houve ainda os acordos conseguidos entre 2008 e 2010, com a intermediação do então primeiro-ministro socialista, para a construção de 12.500 habitações sociais em Caracas (Venezuela), no projecto que previa ao todo 50 mil casas, num valor global de 900 milhões de dólares.

De dimensão regional, o grupo registou um crescimento galopante no período dos governos de Sócrates.

Conforme o SOL noticiou em primeira mão, em Novembro, é precisamente a relação de Sócrates com o Grupo Lena que está na base dos crimes de corrupção pelos quais o MP indiciou o ex-primeiro-ministro. A ligação já vem de longe: Carlos Santos Silva, o empresário amigo de juventude de Sócrates, foi administrador do Grupo Lena até 2009 – mas só no papel, pois continuou até hoje com parcerias empresariais com as empresas dos irmãos Barroca Rodrigues, participando inclusive em reuniões da administração do grupo.

Viagem aos EUA

Foi por uma dessas empresas – a XMI Management & Investments SA, criada com o nome Lena Management & Investments SA e que era detida directamente pelo grupo, mas que actualmente pertence a Santos Silva – que passou o esquema de pagamento de uma das duas avenças de 12.500 euros recebidas por Sócrates. O dinheiro era transferido da XMI em Londres para uma empresa de Joaquim Lalanda e Castro (o representante em Portugal da Octapharma, também arguido no processo), que por sua vez contratara os serviços de Sócrates.

Os gestores do Grupo Lena negam desde a primeira hora quaisquer favorecimentos por parte de José Sócrates. O mesmo foi dito por este quando foi detido, tendo garantido que não era “mais do que um entre muitos grupos económicos” que integravam as suas comitivas ao estrangeiro.

No entanto, dois meses antes – em finais de Setembro, Sócrates foi apanhado em escutas telefónicas, pedindo a Manuel Vicente, Vice-Presidente de Angola, que   intercedesse pelos negócios do Grupo Lena neste país, invocando serem “seus velhos amigos, a quem deve atenções”. O ex-PM acabou por reconhecer que Joaquim Barroca Rodrigues e António Barroca Rodrigues  o acompanharam “numa deslocação a Nova Iorque, para aí manterem um encontro com o responsável político de Angola”.

felicia.cabrita@sol.pt